domingo, 5 de maio de 2013

A estrada chama

Manhã serena, de sol temperado por nuvens altas.
A estrada chama.
Deslizo, quase em silêncio.
O toque do vento, sempre presente nesta terra; hoje, ligeiro.
Meio homem, meio máquina; pés-pedais, subindo e descendo; cadência certa.
O cheiro quente das salinas.
Uma rapina em voo baixo, muito baixo, mesmo ali; talvez a mesma de outro dia.
Estrada quase deserta.
Uma borboleta que passa; algumas aves.
Barcos imóveis, sós, sem gente.
Ao longe adivinha-se o mar, sob um tapete de nuvens, cinzentas.
No veleiro, apenas imaginado, o som do vento e das ondas; o céu escuro; sol em terra.
Uma pequena inclinção; um pouco mais de força.
A ponte.
Um estreito carreiro para os homens-máquina.
O chão é ondulado, incómodo, alaranjado.
Do lado esquerdo a grade, que nos separa da estrada onde as máquinas têm pessoas.
Do lado direito a ria, azul, cheia.
Do lado de lá da ponte, que agora é de cá, outra luz, mais sombria, outro ar, mais húmido.
Nevoeiro quase, mas que não toca na terra.
A ponte é sempre uma passagem.
Caminho de regresso, o mesmo mas diferente.
A estrada move-se em sentido contrário; o vento também.
Novamente uma rapina, talvez a mesma, a de sempre, agora sobre os campos.
Um comboio parado, sem destino.
Montes de areia.
Pensamentos, fragmentos, palavras escritas.
Curvado, mais máquina ainda, a estrada passa, veloz.
Cidade.
Tempo que já foi; tempo real; tempo imaginado; tempo medido; uma hora apenas.

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