"Consenso" tornou-se a mais recente palavra da família das palavras ocas, despidas de sentido, de sensu. É o que acontece à maioria das palavras que entram no jargão político e são repetidas até à exaustão; exaustão de quem as ouve.
Consenso, acordo de uma grande maioria da opinião pública.
Consenso, consentimento, anuência.
Invoca-se o primeiro, o acordo, na esperança de se alcançar o segundo, o consentimento. Porque para acordo é preciso, desde logo, haver matéria, e ação de ambos os lados; para o consentimento basta a resignação de uma parte.
Prefiro coisas com sensu, com bom sensu, do que um qualquer consenso, acordado entre uma grande maioria, mas desprovido de nexo.
Prefiro argumentar e discordar, abertamente, do que entrar em consensos em torno de nada ou, mais frequentemente ainda, em consensos que o são apenas de nome; consensos em que, por vontade própria ou por falta dela, as vozes fogem do espaço público e remetem-se para os corredores, a resignação se instala e a passividade cresce, e as pessoas se recolhem nas suas conchas não participando, afinal, no dito, mas aguardando por melhores dias.
O consenso não tem propriedades mágicas, não resolve nada por si só, não engana os olhares, de dentro ou de fora.
A procura do consenso, essa sim, se for genuína, pode ter o efeito estimulante de discutir alternativas, de ouvir e de tentar compreender o(s) outro(s), de questionar as nossas certezas, de reunir opiniões e maneiras diferentes de ver o mundo atual e de imaginar os mundos que se querem. Independentemente da decisão final e do modo como é tomada.
"(...) consensus is always desirable, though rarely found in practice. Fortunately it is not essential either.", Peter McCaffery, The higher education manager's handbook.
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