quinta-feira, 1 de maio de 2014

Engranitados

Eleições passadas. Eleições que se avizinham. Debates com palavras caras, improvisos ensaiados, frases para repetir até à exaustão. Táticas e Taticismos. Ataques, defesas, distrações. Há quem diga que é política ... Mas a política, a política a sério, não é a que se faz em tempo de eleições.

Apregoa-se a importância da economia baseada no conhecimento, da inovação, do empreendedorismo. Tenta-se ajustar a realidade às ideias feitas. Debitam-se e manipulam-se estatísticas, para efeitos de curto prazo. Disfarça-se a ausência de política com a enunciação de objetivos, metas ou simples desejos:  convergir com a Europa; maximizar o aproveitamento dos fundos europeus; aumentar a produção científica.

Agora, como há doze anos menos quinze dias atrás, data de um artigo, 15 de maio de 2002:

"Não houve nenhum grande debate nacional sobre política científica, nem sobre o papel da ciência nos dominios da defesa, da energia, do desenvolvimento sustentável, da regulação ou da administração pública. Nas campanhas eleitorais, autárquicas, legislativas ou europeias, a ciência nunca surgiu como tema."

"A revista Futuribles publica no seu número de Março deste ano uma lista de doze questões maiores a colocar aos candidatos à próxima eleição para presidente da República Francesa. Doze questões que a comissão de redacção da revista considera essenciais para o futuro daquele país, um país que vive num regime quasi presidencial. Uma dessas doze questões é a de que tipo de política para a investigação científica é defendida pelo candidato, e nela perpassam os problemas que se põem a uma sociedade europeia avançada que se vê envolta nos turbilhões da globalização financeira e dos mercados: como mobilizar os recursos necessários para estimular os agentes inovadores a garantir o futuro.

"Como se mostra, o mundo dos outros (que, afinal, é o nosso) não pára. Urge, pois, atribuir à ciência o seu papel real na sociedade. Sob pena de não conseguirmos ser mais do que figurantes de uma peça escrita numa língua que não falamos. Sob pena de continuarmos amarrados, engranitados, nas soberbas dos séculos passados."

Por quanto tempo continuaremos engranitados?

Os extratos são de um artigo de João Caraça, que integra a coletânea "À Procura do Portugal Moderno", Campo das Letras, 2003.

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