domingo, 8 de março de 2020

Doze Anos, Doze Dias - 2013

Photo by Thomas Q on Unsplash















Dia 6.
Por vezes saíam outras Escritas. Sem as procurar, sem as antecipar, sem as provocar, sem saber muito bem como nem porquê, a não ser que estavam por aí. Iam ganhando forma, lentamente, em pensamento, escolhendo direções próprias. Quando se sentiam prontas escorriam através das teclas, sem grande filtro. Precisando às vezes de uns retoques, ao de leve, para melhor deixar fluir o ritmo e a melodia, sem causar ondas à superfície.


Mundos paralelos
30 de dezembro de 2013

Habito mundos paralelos. Como este em que me encontro agora, do tamanho de uma sala, lareira acesa, luz de inverno entrando pela janela, o som do lápis sobre o papel, o som da cidade, abafado, que hoje parece apenas feito de pássaros. Mas há outros mundos, tão reais como este. Imateriais. Materiais. Mundos em que se vive e se sente. Povoados por gente, por seres que não são gente, por fantasmas e demónios, por objetos iguais mas diferentes, por paisagens incompletas, por cores de outras paletas. Sei que existem: já lá estive. Em sonhos dormidos. Em sonhos acordados. Ao passado que foi. Ao passado evitado. Ao passado que podia ter sido. E ao futuro que vai ser, que talvez venha a ser. Por vezes basta um cheiro familiar, já há muito não sentido, e eis que atravesso uma porta, entrando num outro tempo. Mais do que regressar ao passado é como se um pedaço de passado se incrustasse no presente, arrastando com ele sombras difusas, e criando um agora diferente. Há outras portas, mas só sabemos que o são quando por elas passamos: palavras, objetos, rostos, olhares, pensamentos. Por vezes são janelas, mantendo alguma ordem nos mundos, permitindo apenas olhar, às vezes ouvir, quem sabe, ser visto. Outras vezes ainda são espelhos, refletindo o olhar de quem olha. Mundos separados, misturados, ligados. Não estou sempre aqui, embora não deixe nunca de estar aqui. Sou habitado por mundos paralelos.

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