A acumulação de cargos, prática comum entre nós, é um dos factores que contribui para uma redução da transparência e para a concentração de poder. E não me refiro, apenas e só, a quem ocupa o que normalmente se designa por cargos políticos. Esta é uma prática que atravessa todas as áreas e níveis de funcionamento da nossa sociedade.
Redução da transparência pela multiplicidade de vestes com que o mesmo indivíduo aparece, pelo alimentar de um jogo em que se opina e decide numa ou noutra qualidade, pelo acesso privilegiado à informação, pelo potencial (e real) conflito (ou aproveitamento) de interesses diversos.
Concentração óbiva de poderes num reduzido número de pessoas, vedando a outros a possibilidade de uma contribuição efectiva e assim reduzindo a pluralidade.
Concordo, por isso, com a proposta de separação do cargo de primeiro-ministro e de secretário-geral do partido, defendida pela moção que António Brotas (do PS) apresentou ao seu partido. Ignoro o acolhimento que terá, dentro do PS ou noutros partidos como o PSD. Mas precisamos de exemplos destes e precisamos de os replicar noutras instâncias. Com a vantagem acrescida de que a desacumulação não precisa sequer de leis ou de verbas - basta querer!
sábado, 26 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
A neblina portuguesa
"Não há neblinas só em Portugal. Também as há na Europa. Desse mundo brumoso, ergueu-se o paradigma de Versalhes e, também, o paradigma mais antigo do castelo feudal, habitado por grupos de cidadãos por vezes egoístas.
Portanto, retrocedemos, e muito, nas últimas décadas. Talvez isto tenha acontecido mais no sul da Europa; talvez mais em algumas classes sociais do que noutras. Mas, na generalidade, somos vãos, fúteis, decadentes.
E a única solução consiste em cada cidadão tomar de assalto a Bastilha de si mesmo e transformar-se noutra coisa. Voltarmos a ser clara e humildemente pessoas - é essa a saída a longo prazo."
"A neblina portuguesa", Gabriel Magalhães, in Courier Internacional, Fevereiro de 2011.
Portanto, retrocedemos, e muito, nas últimas décadas. Talvez isto tenha acontecido mais no sul da Europa; talvez mais em algumas classes sociais do que noutras. Mas, na generalidade, somos vãos, fúteis, decadentes.
E a única solução consiste em cada cidadão tomar de assalto a Bastilha de si mesmo e transformar-se noutra coisa. Voltarmos a ser clara e humildemente pessoas - é essa a saída a longo prazo."
"A neblina portuguesa", Gabriel Magalhães, in Courier Internacional, Fevereiro de 2011.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Que Universidades queremos?
O Reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa, abordou o tema da autonomia das universidades, numa sessão promovida pelo Conselho Geral da Universidade do Minho, inserida na discussão da proposta de transformação desta Universidade em fundação pública com regime de direito privado.
Na sua intervenção considerou necessário efectuar mudanças profundas, e não de superfície, na relação entre as Universidades e o Estado; mudanças no sentido do "reforço da autonomia e reforço da independência das universidades tanto face aos poderes políticos como face aos poderes económicos".
Eis três mudanças que António Nóvoa considera importantes:
"(...) Uma maior liberdade na nossa relação com os estudantes: a escolha dos estudantes, o recrutamento dos estudantes, a organização dos cursos, a fixação das propinas, as regras de trabalho da vida dos estudantes dentro das universidades; tudo isto nós aceitamos que seja fixado pelo Governo e achamos que esta liberdade não é importante. Esta liberdade, para mim, é uma liberdade central da Universidade."
"Depois a liberdade na sua relação com os docentes e investigadores: no recrutamentos dos docentes, na sua promoção (...), na sua avaliação, sem as peias extraordinariamente burocráticas e uniformizantes que tanto o ECDU como (...) uma espécie de SIADAP para os docentes vêm trazendo. Sobre isto as pessoas vêm revelando pouco incómodo e achamos que é normal que seja o Governo a definir todas estas regras."
"Uma maior liberdade no modelo de organização e de governo das instituições. Uma das críticas principais que fiz ao Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior foi justamente o não ter permitido essa liberdade. A única liberdade efectiva que o RJIES vem consagrar é a possibilidade de optar pelo modelo fundacional, mas no interior da organização das universidades há uma uniformidade total, uma homogeneização total (...) quando não se percebe porque é que as universidades não poderiam livremente escolher os seus modelos de organização."
Estas propostas permitiriam criar condições para uma real diferenciação no sistema de ensino superior português. A diferenciação, ao nível dos projectos institucionais e das capacidades, acarreterá um acréscimo da competição e tem, a meu ver, potencial para alterar a própria configuração da rede de ensino superior.
A abordagem efectuada, naturalmente na óptica das universidades, deixa por clarificar o papel que o Estado deveria assumir neste novo modelo de relacionamento, em termos de regulação do sistema, promoção da igualdade de oportunidades e financiamento.
É um debate necessário: que Universidades queremos e para quê?
Debates disponíveis em www.conselhogeral.uminho.pt.
Na sua intervenção considerou necessário efectuar mudanças profundas, e não de superfície, na relação entre as Universidades e o Estado; mudanças no sentido do "reforço da autonomia e reforço da independência das universidades tanto face aos poderes políticos como face aos poderes económicos".
Eis três mudanças que António Nóvoa considera importantes:
"(...) Uma maior liberdade na nossa relação com os estudantes: a escolha dos estudantes, o recrutamento dos estudantes, a organização dos cursos, a fixação das propinas, as regras de trabalho da vida dos estudantes dentro das universidades; tudo isto nós aceitamos que seja fixado pelo Governo e achamos que esta liberdade não é importante. Esta liberdade, para mim, é uma liberdade central da Universidade."
"Depois a liberdade na sua relação com os docentes e investigadores: no recrutamentos dos docentes, na sua promoção (...), na sua avaliação, sem as peias extraordinariamente burocráticas e uniformizantes que tanto o ECDU como (...) uma espécie de SIADAP para os docentes vêm trazendo. Sobre isto as pessoas vêm revelando pouco incómodo e achamos que é normal que seja o Governo a definir todas estas regras."
"Uma maior liberdade no modelo de organização e de governo das instituições. Uma das críticas principais que fiz ao Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior foi justamente o não ter permitido essa liberdade. A única liberdade efectiva que o RJIES vem consagrar é a possibilidade de optar pelo modelo fundacional, mas no interior da organização das universidades há uma uniformidade total, uma homogeneização total (...) quando não se percebe porque é que as universidades não poderiam livremente escolher os seus modelos de organização."
Estas propostas permitiriam criar condições para uma real diferenciação no sistema de ensino superior português. A diferenciação, ao nível dos projectos institucionais e das capacidades, acarreterá um acréscimo da competição e tem, a meu ver, potencial para alterar a própria configuração da rede de ensino superior.
A abordagem efectuada, naturalmente na óptica das universidades, deixa por clarificar o papel que o Estado deveria assumir neste novo modelo de relacionamento, em termos de regulação do sistema, promoção da igualdade de oportunidades e financiamento.
É um debate necessário: que Universidades queremos e para quê?
Debates disponíveis em www.conselhogeral.uminho.pt.
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
O grau zero da política
Estes últimos dias têm ainda sido mais reveladores da falta de qualidade, da completa ausência de coerência, talvez por ausência de convicções, e da inexistência do tão apregoado "sentido de estado" dos líderes partidários e parlamentares dos principais partidos.
Começou com a possibilidade de uma moção de censura, admitida por Jerónimo de Sousa. Possibilidade que a pairar, ainda como hipótese. Jerónimo não anteviu a escalada das suas declarações propiciada, também, por uma comunicação social sedenta de "casos".
Continuou com a esperteza saloia de Francisco Louçã marcando, a prazo, uma moção de censura; 3o dias de protagonismo garantido qualquer que seja o resultado; ainda que contrariando o discurso de poucos dias antes e tentando justificar o avanço com a próxima tomada de posse do Presidente da República (por esta ordem de ideias podia ter anunciado a moção na noite eleitoral); do conteúdo da moção: nada, o que aliás seviu, pasme-se, para ainda criticar aqueles que iam anunciar o seu sentido de voto sem conhecer os detalhes da dita; para emendar a mão alargou a moção de censura ao PSD, não fosse este ter a tentação de a aprovar e fazer mesmo cair o governo. Aparentemente há gente no Bloco com ideias diferentes ... oxalá, e que mudem o partido ou então que saiam dele!
De seguida foi o PS, por Francisco Assis, a exigir a definição dos restantes partidos agitando o fantasma da instabilidade, e Sócrates o da irresponsabilidade das forças extremistas. Afinal era só aproveitar a borla do BE e pressionar o PSD, numa altura em que os juros da dívida continuam no top+. Valia a pena fazer um debate sério sobre os perigos da noção de estabilidade implícita nestes discursos, leia-se estabilidade de partido único, sem negociação nem discussão, e com muitos lugares para distribuir. E também sobre os mercados, tidos como ameaçadores nos últimos três anos; só que nós aspiramos a posicionar-nos nesses mesmos mercados, e a exportar no mundo globalizado; a gasta tese do inimigo externo, por falta de credibilidade, não serve agora para unir o País.
Depois vem o CDS, de peito feito, através de Pedro Mota Soares. Quem o viu e ouviu, com aquele ar habitual de indignação, atacar a moção do BE que classificou como teatral e inútil, que não era para levar a sério, não esperaria seguramente o desfecho: o CDS-PP não irá votar contra mas abster-se! E disse mais, o voto contra poderia ser mal entendido pelos portugueses (eleitores), que julgariam que o partido estava a apoiar o governo! Já dizia o outro "E o burro sou eu?". Claro que com um cheirinho a poder a táctica manda e não é preciso correr riscos desnecessários: o nim foi a resposta de um partido que se apresenta, regularmente, como sendo de uma moralidade superior...
Faltava o PSD. E eis que temos outro nim! Os estrategas de serviço devem ter achado que ainda não era hora, e muito menos a reboque do BE. Dizer que este governo é uma desgraça é uma coisa simples e popular; e é reptida à exaustão; mesmo assim derrubá-lo pode, mais uma vez, ser mal interpretado pelo povo; as sondagens não devem ser ainda suficientemente seguras. Votar contra a moção é votar ao lado do governo e o povo pode confundir isto tudo. Afinal, o partido está primeiro e este ainda não está pronto, tem que aprovar umas coisistas, fazer umas reuniões, pôr a casa em ordem, esperar que a situação se agrave, que os portugueses vivam pior para a mudança ser, para o partido claro, mais fácil e mais "absoluta". "E o burro sou eu?". Parece que também no PSD houve quem tivesse uma coluna mais saudável e, a favor ou contra, pretendia dar uma resposta mais clara. Mas tomar posições claras e asumir o risco de as defender são contra a cultura dominante!
Dizem que a esperança é a última a morrer, mas há muita a gente a maltratá-la!
Começou com a possibilidade de uma moção de censura, admitida por Jerónimo de Sousa. Possibilidade que a pairar, ainda como hipótese. Jerónimo não anteviu a escalada das suas declarações propiciada, também, por uma comunicação social sedenta de "casos".
Continuou com a esperteza saloia de Francisco Louçã marcando, a prazo, uma moção de censura; 3o dias de protagonismo garantido qualquer que seja o resultado; ainda que contrariando o discurso de poucos dias antes e tentando justificar o avanço com a próxima tomada de posse do Presidente da República (por esta ordem de ideias podia ter anunciado a moção na noite eleitoral); do conteúdo da moção: nada, o que aliás seviu, pasme-se, para ainda criticar aqueles que iam anunciar o seu sentido de voto sem conhecer os detalhes da dita; para emendar a mão alargou a moção de censura ao PSD, não fosse este ter a tentação de a aprovar e fazer mesmo cair o governo. Aparentemente há gente no Bloco com ideias diferentes ... oxalá, e que mudem o partido ou então que saiam dele!
De seguida foi o PS, por Francisco Assis, a exigir a definição dos restantes partidos agitando o fantasma da instabilidade, e Sócrates o da irresponsabilidade das forças extremistas. Afinal era só aproveitar a borla do BE e pressionar o PSD, numa altura em que os juros da dívida continuam no top+. Valia a pena fazer um debate sério sobre os perigos da noção de estabilidade implícita nestes discursos, leia-se estabilidade de partido único, sem negociação nem discussão, e com muitos lugares para distribuir. E também sobre os mercados, tidos como ameaçadores nos últimos três anos; só que nós aspiramos a posicionar-nos nesses mesmos mercados, e a exportar no mundo globalizado; a gasta tese do inimigo externo, por falta de credibilidade, não serve agora para unir o País.
Depois vem o CDS, de peito feito, através de Pedro Mota Soares. Quem o viu e ouviu, com aquele ar habitual de indignação, atacar a moção do BE que classificou como teatral e inútil, que não era para levar a sério, não esperaria seguramente o desfecho: o CDS-PP não irá votar contra mas abster-se! E disse mais, o voto contra poderia ser mal entendido pelos portugueses (eleitores), que julgariam que o partido estava a apoiar o governo! Já dizia o outro "E o burro sou eu?". Claro que com um cheirinho a poder a táctica manda e não é preciso correr riscos desnecessários: o nim foi a resposta de um partido que se apresenta, regularmente, como sendo de uma moralidade superior...
Faltava o PSD. E eis que temos outro nim! Os estrategas de serviço devem ter achado que ainda não era hora, e muito menos a reboque do BE. Dizer que este governo é uma desgraça é uma coisa simples e popular; e é reptida à exaustão; mesmo assim derrubá-lo pode, mais uma vez, ser mal interpretado pelo povo; as sondagens não devem ser ainda suficientemente seguras. Votar contra a moção é votar ao lado do governo e o povo pode confundir isto tudo. Afinal, o partido está primeiro e este ainda não está pronto, tem que aprovar umas coisistas, fazer umas reuniões, pôr a casa em ordem, esperar que a situação se agrave, que os portugueses vivam pior para a mudança ser, para o partido claro, mais fácil e mais "absoluta". "E o burro sou eu?". Parece que também no PSD houve quem tivesse uma coluna mais saudável e, a favor ou contra, pretendia dar uma resposta mais clara. Mas tomar posições claras e asumir o risco de as defender são contra a cultura dominante!
Dizem que a esperança é a última a morrer, mas há muita a gente a maltratá-la!
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Weimarzinho
Vale a pena ler Pacheco Pereira, no artigo que intitulou "Weimarzinho" e que foi publicado no jornal Público, no dia 12 de Fevereiro. Eis um extracto que ilustra bem muito do que se passa na nossa sociedade: uma demissão da cidadania em prol de um conforto comprometido; um desprezo pelo saber encarado como ameaçador ou elitista por quem sabe menos; e uma certa desesperança.
"Weimarzinho significa também essa cobardia de espírito, de acomodações e silêncios, a dissolução do pensamento e da coragem cívica, essa "destruição da razão" substituída pelos incêndios românticos de livros. (...) Um imbecil igualitarismo entre quem estuda e quem dá "bitaites", perdoe-se o plebeísmo, entre quem conhece e quem "acha", entre quem sabe e o arrogante iniciante e ingnorante que acha que por escrever um blogue tem o direito de ser "igual". (...) Dissolução do pensamento, apatia, preguiça, aceitação do inaceitável, cada dia com a sua cedência, à moda, ao espectáculo, à raiva populista e demagógica, para se passar pelo meio da chuva e "não se chatear". Direitos, deveres, procedimentos, regras, cada dia têm menos valor."
Conseguiremos voltar a não aceitar o inaceitável?
"Weimarzinho significa também essa cobardia de espírito, de acomodações e silêncios, a dissolução do pensamento e da coragem cívica, essa "destruição da razão" substituída pelos incêndios românticos de livros. (...) Um imbecil igualitarismo entre quem estuda e quem dá "bitaites", perdoe-se o plebeísmo, entre quem conhece e quem "acha", entre quem sabe e o arrogante iniciante e ingnorante que acha que por escrever um blogue tem o direito de ser "igual". (...) Dissolução do pensamento, apatia, preguiça, aceitação do inaceitável, cada dia com a sua cedência, à moda, ao espectáculo, à raiva populista e demagógica, para se passar pelo meio da chuva e "não se chatear". Direitos, deveres, procedimentos, regras, cada dia têm menos valor."
Conseguiremos voltar a não aceitar o inaceitável?
domingo, 6 de fevereiro de 2011
Soundbits: António Mexia
Citação no sítio do Diário Económico sobre a entrevista de António Mexia (EDP) ao DN e TSF, referindo-se à remuneração que auferiu em 2009 (3,1 milhões): "além disso, o montante "está muito abaixo do que se paga lá fora", notou."
O mesmo se aplica, provavelmente com algumas diferenças, aos outros 10.637.712 habitantes! Lá fora é que se está bem.
O mesmo se aplica, provavelmente com algumas diferenças, aos outros 10.637.712 habitantes! Lá fora é que se está bem.
Lideranças
Na edição do Expresso desta semana é abordado, em artigos diferentes, o tema da liderança. Eis dois extractos para reflexão:
"O principal papel de um líder é formar líderes melhores do que ele, mais cultos, mais inspiradores, mais corajosos, que sejam catalisadores da mudança e que incentivem à curiosidade investigativa.", Belmiro de Azevedo.
Esta visão, aparentemente simples na forma, e que provavelmente até pode recolher um consenso alargado, subentende algo que é difícil de praticar: assumir a condição de estar a prazo, de ser efémero; trabalhar com quem é ou poderá/deverá vir a ser melhor; centrar a atenção no conteúdo e não no interlocutor, nem na hierarquia formal ou informal; ouvir quem discorda, fundamentadamente, em lugar de quem concorda, apenas por dever de ofício. Tal só é possível abdicando da tentação do poder e olhando para um tempo mais à frente, aquele tempo em que o líder de hoje já cedeu o seu papel.
Jonas Ridderstrale, dando o exempo do CEO da Google afirma: "Sabendo que não detém toda a infromação que circula na empresa, prefere que as decisões dependam da piscina de talento que existe na Google. Ele não tem um papel menos significativo, mas diferente: tem de gerir a diversidade e fazer-se menos dependente." E continua: "Temos de abandonar a ideia de soluções centralizadas, de hierarquias burocráticas. Isso é essencial num mundo corporativo em que o planeamento e as prevísões já não funcionam, como os casos mais recentes do derrame petrolífero da BP e as cinzas do vulcão islandês nos mostraram.".
A mudança de um modelo centralizado para um modelo com maiores níveis de autonomia exige, sobretudo, uma mudança cultural. Uma mudança aos vários níveis da cadeia hierárquica. Uma mudança que enfrentará resistências, dos chefes que não são líderes e estão centrados no seu poder e no imediato, mas também das bases, porque autonomia implica tomar riscos, tomar decisões, e não apenas "empurrar" para cima.
As pessoas fazem as organizações, mas as organizações também fazem as pessoas. A capacidade de adaptação ao actual contexto alterará ordens e rankings estabelecidos. Os actuais primeiros podem rapidamente perder o seu lugar, senão mesmo desaparecer.
Usando uma expressão que se aplica ao mercado de capitais - rentabilidades passadas não são garantia de rentabilidades futuras. Diz Ridderstrale: "Um líder é uma espécie de traficante de esperança: no fim do dia, tem de fazer acreditar que o amanhã será melhor."
"O principal papel de um líder é formar líderes melhores do que ele, mais cultos, mais inspiradores, mais corajosos, que sejam catalisadores da mudança e que incentivem à curiosidade investigativa.", Belmiro de Azevedo.
Esta visão, aparentemente simples na forma, e que provavelmente até pode recolher um consenso alargado, subentende algo que é difícil de praticar: assumir a condição de estar a prazo, de ser efémero; trabalhar com quem é ou poderá/deverá vir a ser melhor; centrar a atenção no conteúdo e não no interlocutor, nem na hierarquia formal ou informal; ouvir quem discorda, fundamentadamente, em lugar de quem concorda, apenas por dever de ofício. Tal só é possível abdicando da tentação do poder e olhando para um tempo mais à frente, aquele tempo em que o líder de hoje já cedeu o seu papel.
Jonas Ridderstrale, dando o exempo do CEO da Google afirma: "Sabendo que não detém toda a infromação que circula na empresa, prefere que as decisões dependam da piscina de talento que existe na Google. Ele não tem um papel menos significativo, mas diferente: tem de gerir a diversidade e fazer-se menos dependente." E continua: "Temos de abandonar a ideia de soluções centralizadas, de hierarquias burocráticas. Isso é essencial num mundo corporativo em que o planeamento e as prevísões já não funcionam, como os casos mais recentes do derrame petrolífero da BP e as cinzas do vulcão islandês nos mostraram.".
A mudança de um modelo centralizado para um modelo com maiores níveis de autonomia exige, sobretudo, uma mudança cultural. Uma mudança aos vários níveis da cadeia hierárquica. Uma mudança que enfrentará resistências, dos chefes que não são líderes e estão centrados no seu poder e no imediato, mas também das bases, porque autonomia implica tomar riscos, tomar decisões, e não apenas "empurrar" para cima.
As pessoas fazem as organizações, mas as organizações também fazem as pessoas. A capacidade de adaptação ao actual contexto alterará ordens e rankings estabelecidos. Os actuais primeiros podem rapidamente perder o seu lugar, senão mesmo desaparecer.
Usando uma expressão que se aplica ao mercado de capitais - rentabilidades passadas não são garantia de rentabilidades futuras. Diz Ridderstrale: "Um líder é uma espécie de traficante de esperança: no fim do dia, tem de fazer acreditar que o amanhã será melhor."
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Euromilhões... é desta!
Países e cidadãos endividados esperam um golpe de sorte, como se depreende de uma notícia de hoje no sítio do Diário Económico:
"Aprovámos um decreto-lei que permite que o jogo Euromilhões passe a ter dois concursos semanais", revelou Pedro Silva Pereira, no habitual 'briefing' após o Conselho de Ministros.
Não revelou, contudo, se o Primeiro-Ministro e o Ministro das Finanças vão passar a apostar duas vezes por semana, numa assim redobrada esperança de um jackpot que permita atenuar o défice e, em simultâneo, continuar a criar excêntricos!
"Aprovámos um decreto-lei que permite que o jogo Euromilhões passe a ter dois concursos semanais", revelou Pedro Silva Pereira, no habitual 'briefing' após o Conselho de Ministros.
Não revelou, contudo, se o Primeiro-Ministro e o Ministro das Finanças vão passar a apostar duas vezes por semana, numa assim redobrada esperança de um jackpot que permita atenuar o défice e, em simultâneo, continuar a criar excêntricos!
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Os tempos da aprendizagem
"A educação era muito lenta e George ressentira-se disso. Não gostava nada da ideia de que alguém lhe tivesse de explicar e voltar a explicar o que fosse. Que jeito tinha ler e reler uma passagem e, depois, estudar a relação matemática entre isto ou aquilo, não a conseguindo compreender imediatamente? Quase já desistira de ir às aulas e uma vez chegara a abandoná-las uma semana inteira. Acabara sempre por voltar à classe, e o encarregado que distribuía o trabalho e que conduzia as demonstrações por meio de televisão nunca comentara a ausência de George, limitando-se a explicar-lhe a matéria que fora estudada durante a sua ausência."
Este é um extracto de "Profissão", conto integrado na colectânea Nove Amanhãs, da autoria de Isaac Asimov, foi publicado incialmente no final da década de 1950. Já aqui me referi a ele, há quase 3 anos, mas revisito-o, de tempos a tempos. Situa-se num futuro distante em que a aprendizagem "normal" era feita de forma instantânea, por ligação directa cérebro-máquina, através das fitas de aprendizagem.
Mesmo nessa ficção não basta repetir o passado e ser um mero utilizador do conhecimento feito: alguém tem de gerar novos conhecimentos para os outros, sem a possibilidade de recorrer apenas à tecnologia existente; alguém tem de criar as máquinas; alguém tem de criar os programas; alguém tem de inventar o futuro, com erros e tentativas falhadas, com tempo e com esforço. E precisamos de muitos alguéns!
Este é um extracto de "Profissão", conto integrado na colectânea Nove Amanhãs, da autoria de Isaac Asimov, foi publicado incialmente no final da década de 1950. Já aqui me referi a ele, há quase 3 anos, mas revisito-o, de tempos a tempos. Situa-se num futuro distante em que a aprendizagem "normal" era feita de forma instantânea, por ligação directa cérebro-máquina, através das fitas de aprendizagem.
Mesmo nessa ficção não basta repetir o passado e ser um mero utilizador do conhecimento feito: alguém tem de gerar novos conhecimentos para os outros, sem a possibilidade de recorrer apenas à tecnologia existente; alguém tem de criar as máquinas; alguém tem de criar os programas; alguém tem de inventar o futuro, com erros e tentativas falhadas, com tempo e com esforço. E precisamos de muitos alguéns!
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