domingo, 6 de fevereiro de 2011

Lideranças

Na edição do Expresso desta semana é abordado, em artigos diferentes, o tema da liderança. Eis dois extractos para reflexão:

"O principal papel de um líder é formar líderes melhores do que ele, mais cultos, mais inspiradores, mais corajosos, que sejam catalisadores da mudança e que incentivem à curiosidade investigativa.", Belmiro de Azevedo.

Esta visão, aparentemente simples na forma, e que provavelmente até pode recolher um consenso alargado, subentende algo que é difícil de praticar: assumir a condição de estar a prazo, de ser efémero; trabalhar com quem é ou poderá/deverá vir a ser melhor; centrar a atenção no conteúdo e não no interlocutor, nem na hierarquia formal ou informal; ouvir quem discorda, fundamentadamente, em lugar de quem concorda, apenas por dever de ofício. Tal só é possível abdicando da tentação do poder e olhando para um tempo mais à frente, aquele tempo em que o líder de hoje já cedeu o seu papel.

Jonas Ridderstrale, dando o exempo do CEO da Google afirma: "Sabendo que não detém toda a infromação que circula na empresa, prefere que as decisões dependam da piscina de talento que existe na Google. Ele não tem um papel menos significativo, mas diferente: tem de gerir a diversidade e fazer-se menos dependente." E continua: "Temos de abandonar a ideia de soluções centralizadas, de hierarquias burocráticas. Isso é essencial num mundo corporativo em que o planeamento e as prevísões já não funcionam, como os casos mais recentes do derrame petrolífero da BP e as cinzas do vulcão islandês nos mostraram.".

A mudança de um modelo centralizado para um modelo com maiores níveis de autonomia exige, sobretudo, uma mudança cultural. Uma mudança aos vários níveis da cadeia hierárquica. Uma mudança que enfrentará resistências, dos chefes que não são líderes e estão centrados no seu poder e no imediato, mas também das bases, porque autonomia implica tomar riscos, tomar decisões, e não apenas "empurrar" para cima.

As pessoas fazem as organizações, mas as organizações também fazem as pessoas. A capacidade de adaptação ao actual contexto alterará ordens e rankings estabelecidos. Os actuais primeiros podem rapidamente perder o seu lugar, senão mesmo desaparecer.

Usando uma expressão que se aplica ao mercado de capitais - rentabilidades passadas não são garantia de rentabilidades futuras. Diz Ridderstrale: "Um líder é uma espécie de traficante de esperança: no fim do dia, tem de fazer acreditar que o amanhã será melhor."

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