terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O grau zero da política

Estes últimos dias têm ainda sido mais reveladores da falta de qualidade, da completa ausência de coerência, talvez por ausência de convicções, e da inexistência do tão apregoado "sentido de estado" dos líderes partidários e parlamentares dos principais partidos.

Começou com a possibilidade de uma moção de censura, admitida por Jerónimo de Sousa. Possibilidade que a pairar, ainda como hipótese. Jerónimo não anteviu a escalada das suas declarações propiciada, também, por uma comunicação social sedenta de "casos".

Continuou com a esperteza saloia de Francisco Louçã marcando, a prazo, uma moção de censura; 3o dias de protagonismo garantido qualquer que seja o resultado; ainda que contrariando o discurso de poucos dias antes e tentando justificar o avanço com a próxima tomada de posse do Presidente da República (por esta ordem de ideias podia ter anunciado a moção na noite eleitoral); do conteúdo da moção: nada, o que aliás seviu, pasme-se, para ainda criticar aqueles que iam anunciar o seu sentido de voto sem conhecer os detalhes da dita; para emendar a mão alargou a moção de censura ao PSD, não fosse este ter a tentação de a aprovar e fazer mesmo cair o governo. Aparentemente há gente no Bloco com ideias diferentes ... oxalá, e que mudem o partido ou então que saiam dele!

De seguida foi o PS, por Francisco Assis, a exigir a definição dos restantes partidos agitando o fantasma da instabilidade, e Sócrates o da irresponsabilidade das forças extremistas. Afinal era só aproveitar a borla do BE e pressionar o PSD, numa altura em que os juros da dívida continuam no top+. Valia a pena fazer um debate sério sobre os perigos da noção de estabilidade implícita nestes discursos, leia-se estabilidade de partido único, sem negociação nem discussão, e com muitos lugares para distribuir. E também sobre os mercados, tidos como ameaçadores nos últimos três anos; só que nós aspiramos a posicionar-nos nesses mesmos mercados, e a exportar no mundo globalizado; a gasta tese do inimigo externo, por falta de credibilidade, não serve agora para unir o País.

Depois vem o CDS, de peito feito, através de Pedro Mota Soares. Quem o viu e ouviu, com aquele ar habitual de indignação, atacar a moção do BE que classificou como teatral e inútil, que não era para levar a sério, não esperaria seguramente o desfecho: o CDS-PP não irá votar contra mas abster-se! E disse mais, o voto contra poderia ser mal entendido pelos portugueses (eleitores), que julgariam que o partido estava a apoiar o governo! Já dizia o outro "E o burro sou eu?". Claro que com um cheirinho a poder a táctica manda e não é preciso correr riscos desnecessários: o nim foi a resposta de um partido que se apresenta, regularmente, como sendo de uma moralidade superior...

Faltava o PSD. E eis que temos outro nim! Os estrategas de serviço devem ter achado que ainda não era hora, e muito menos a reboque do BE. Dizer que este governo é uma desgraça é uma coisa simples e popular; e é reptida à exaustão; mesmo assim derrubá-lo pode, mais uma vez, ser mal interpretado pelo povo; as sondagens não devem ser ainda suficientemente seguras. Votar contra a moção é votar ao lado do governo e o povo pode confundir isto tudo. Afinal, o partido está primeiro e este ainda não está pronto, tem que aprovar umas coisistas, fazer umas reuniões, pôr a casa em ordem, esperar que a situação se agrave, que os portugueses vivam pior para a mudança ser, para o partido claro, mais fácil e mais "absoluta". "E o burro sou eu?". Parece que também no PSD houve quem tivesse uma coluna mais saudável e, a favor ou contra, pretendia dar uma resposta mais clara. Mas tomar posições claras e asumir o risco de as defender são contra a cultura dominante!

Dizem que a esperança é a última a morrer, mas há muita a gente a maltratá-la!

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