Última emissão de 2014, no Click de 27 de dezembro, Antena 1.
Internacionalizar é a palavra de 2014 para o Ensino Superior. Internacionalizar e Exportar. Neste ano foi criado o Estatuto do Estudante Internacional, abrindo uma via de acesso para estudantes não comunitários; a AICEP - Agência para o Investimento e o Comércio Externo de Portugal, interessou-se por esta área, num claro sinal da relevância económica do setor; e foi divulgado o relatório de um grupo de missão, que contém 40 recomendações sobre esta matéria. A isto juntam-se os novos programas comunitários Horizon 2020 e Erasmus+, o estabelecimento de parcerias internacionais e a participação em feiras dedicadas à educação.
Visto de fora pode parecer que se está no início de um processo estimulante. Mas na verdade, a universidade, como instituição, atravessou já oito séculos, com a internacionalização sempre presente: no movimento de pessoas, através da Europa, em busca dos mestres mais afamados; na correspondência entre cientistas; na construção do conhecimento ignorando as fronteiras dos estados; na exploração de outros territórios.
No Portugal das décadas de 70 e 80 o ensino superior expandiu-se, e os docentes doutoravam-se no estrangeiro, numa viagem de ida, com volta garantida. A adesão do País ao projeto europeu abriu as portas dos programas-quadro de investigação e desenvolvimento e de mobilidade, fomentando a inserção em redes. As avaliações e comparações internacionais são, hoje, práticas comuns e aceites.
Neste mundo, que entretanto cresceu e se transformou, abrem-se muitas outras possibilidades: ensino presencial, à distância ou misto; cursos e recursos online; o uso do português como língua estratégica e o uso do inglês como língua franca; ou o uso de outras línguas; uma captação quase regional de estudantes nacionais, em simultâneo com a captação de estudantes estrangeiros, de mais países e de maior distância, geográfica ou cultural; a criação de consórcios, de pólos ou de instalações em países terceiros.
E há ainda muito mais por explorar, na relação com os antigos alunos, na internacionalização do pessoal administrativo, na chamada terceira missão das universidades, na criação de um verdadeiro ambiente internacional.
Este é uma área de grande competição entre instituições, e mesmo entre países. Que requer opções. E uma procura dos novos desequilíbrios que são motores de mudança.
sábado, 27 de dezembro de 2014
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
Profissão: docente.
"Actualmente a falta de prémios para as letras, as despesas dos tempos e a diminuição dos estudantes nas universidades são tão notáveis e as remunerações e salários dos professores são tão abaixo do que costumavam ser que, como resultado, os académicos sábios e sérios não podem manter-se nas universidades e procuram posições mais adequadas ao seu sustento."
Não é conversa de corredor. Não é exposição de sindicato. Não é negociação salarial. Não é pedido de financiamento ao Governo. Não é, sequer, uma situação generalizável no tempo e no espaço. Neste caso é uma declaração das Cortes Espanholas de ... 1627! Já não falta muito para fazer 400 anos!
Pagamentos em géneros. Condições diferenciadas em termos de impostos ou de outras obrigações. Rendimento dependente do número de alunos e, portanto, da disciplina lecionada e da fama alcançada. Salários governamentais ou da cidade. Pagamentos avultados para atrair docentes talentosos. Exercício de outras atividades remuneradas. Exercício de cargos em conselhos de universidade ou de faculdade. Aulas privadas em paralelo com as aulas nas instituições. Falta de pagamento regular.
Absentismo. Aulas confiadas a substitutos de segunda classe.
"Em Coimbra são muito frequentes as ausências dos lentes titulares, muitas vezes autorizadas e formalmente compensadas pela nomeação momentânea de substitutos, feita nalguns casos pelo próprio professor que se ausentava."
Meios, reputação.
"Não é coincidência que as universidades cujos professores não tinham estes problemas financeiros, tais como Leida no século XVII, fossem capazes de se expandirem e gozassem de uma boa reputação científica."
Exclusividade.
"Em Königsberg, o governo proibiu os professores de exercerem funções paralelas num esforço bem intencionado de forçar o professorado a prestar toda a atenção aos assuntos académicos. Infelizmente, aqui o governo não deu o passo lógico seguinte que seria aumentar os salários dos professores."
Séculos XVI, XVII, XVIII ... XXI?
ECDU, Exclusividade.
Vale a pena ler. Momentos diferentes mas buscas de pontos de equilíbrio semelhantes. Circunstâncias distintas mas iguais lutas de poder. E dilemas entre o individual, o institucional, o coletivo maior.
Os extratos são de "Uma história da Universidade na Europa", vol II, As Universidades na Europa Moderna (1500-1800), edição coordenada por Hilde de Ridder-Symoens.
Não é conversa de corredor. Não é exposição de sindicato. Não é negociação salarial. Não é pedido de financiamento ao Governo. Não é, sequer, uma situação generalizável no tempo e no espaço. Neste caso é uma declaração das Cortes Espanholas de ... 1627! Já não falta muito para fazer 400 anos!
Pagamentos em géneros. Condições diferenciadas em termos de impostos ou de outras obrigações. Rendimento dependente do número de alunos e, portanto, da disciplina lecionada e da fama alcançada. Salários governamentais ou da cidade. Pagamentos avultados para atrair docentes talentosos. Exercício de outras atividades remuneradas. Exercício de cargos em conselhos de universidade ou de faculdade. Aulas privadas em paralelo com as aulas nas instituições. Falta de pagamento regular.
Absentismo. Aulas confiadas a substitutos de segunda classe.
"Em Coimbra são muito frequentes as ausências dos lentes titulares, muitas vezes autorizadas e formalmente compensadas pela nomeação momentânea de substitutos, feita nalguns casos pelo próprio professor que se ausentava."
Meios, reputação.
"Não é coincidência que as universidades cujos professores não tinham estes problemas financeiros, tais como Leida no século XVII, fossem capazes de se expandirem e gozassem de uma boa reputação científica."
Exclusividade.
"Em Königsberg, o governo proibiu os professores de exercerem funções paralelas num esforço bem intencionado de forçar o professorado a prestar toda a atenção aos assuntos académicos. Infelizmente, aqui o governo não deu o passo lógico seguinte que seria aumentar os salários dos professores."
Séculos XVI, XVII, XVIII ... XXI?
ECDU, Exclusividade.
Vale a pena ler. Momentos diferentes mas buscas de pontos de equilíbrio semelhantes. Circunstâncias distintas mas iguais lutas de poder. E dilemas entre o individual, o institucional, o coletivo maior.
Os extratos são de "Uma história da Universidade na Europa", vol II, As Universidades na Europa Moderna (1500-1800), edição coordenada por Hilde de Ridder-Symoens.
sábado, 15 de novembro de 2014
Falando de propinas
Notas emitidas no Click, Antena 1, a 15 de novembro.
O valor das propinas é um daqueles temas, sempre presentes, e associado a debates acesos e divergências marcantes. E que ganha maior visibilidade nos momentos em que o seu valor máximo é definido, quando cada instituição fixa as propinas devidas pelos estudantes, quando se discute o abandono, quando são divulgados relatórios internacionais que comparam países, ou em momentos específicos, como o da criação do Estatuto do Estudante Internacional, que permite a cobrança de propinas diferentes, mais elevadas, a estudantes extra-comunitários.
Do ponto de vista dos estudantes e das famílias as propinas são uma parte, nem sequer a maior, dos custos de frequentar o ensino superior, a que se junta o alojamento, a alimentação, o transporte, livros, informática e comunicações, instrumentos e outras despesas específicas em função do curso.
Do ponto de vista das instituições são uma das fontes de receita, não a principal, que vem aumentando em proporção pela diminuição das verbas do orçamento do estado, mas não tanto em valor absoluto, tendo em conta a relativa estabilização do número de estudantes.
Se olharmos para outros Países da Europa encontramos um panorama muito variado. Desde os mais de 10000 euros cobrados na Inglaterra, passando pelos cerca de 1000 euros em Portugal, até ao zero de países nórdicos, e da Alemanha e da Áustria, por exemplo.
E existem também diferentes mecanismos relacionados com o pagamento propriamente dito, desde o normal efetuado em cada ano, aos sistemas de empréstimo, ao pagamento apenas após a graduação e em função dos rendimentos auferidos, ao papel do Estado ou de Bancos como intermediários ou garante.
Uma coisa é certa: não há, em lugar algum, ensino gratuito: o ensino superior tem custos e alguém os suporta. Trata-se, isso sim, de definir quem paga, em que proporção, como e quando. Podem ser os contribuintes, os estudantes e as suas famílias, os estudantes já não enquanto tal mas enquanto trabalhadores, ou, porque não, também os próprios empregadores? Ou ainda uma combinação de tudo isto em função de decisões sobre a responsabilidade no ensino, o colectivo e o individual, possibilidades de escolha, gastos no presente e expectativas de ganhos no futuro.
É uma discussão ideológica, e ainda bem que assim é!
O valor das propinas é um daqueles temas, sempre presentes, e associado a debates acesos e divergências marcantes. E que ganha maior visibilidade nos momentos em que o seu valor máximo é definido, quando cada instituição fixa as propinas devidas pelos estudantes, quando se discute o abandono, quando são divulgados relatórios internacionais que comparam países, ou em momentos específicos, como o da criação do Estatuto do Estudante Internacional, que permite a cobrança de propinas diferentes, mais elevadas, a estudantes extra-comunitários.
Do ponto de vista dos estudantes e das famílias as propinas são uma parte, nem sequer a maior, dos custos de frequentar o ensino superior, a que se junta o alojamento, a alimentação, o transporte, livros, informática e comunicações, instrumentos e outras despesas específicas em função do curso.
Do ponto de vista das instituições são uma das fontes de receita, não a principal, que vem aumentando em proporção pela diminuição das verbas do orçamento do estado, mas não tanto em valor absoluto, tendo em conta a relativa estabilização do número de estudantes.
Se olharmos para outros Países da Europa encontramos um panorama muito variado. Desde os mais de 10000 euros cobrados na Inglaterra, passando pelos cerca de 1000 euros em Portugal, até ao zero de países nórdicos, e da Alemanha e da Áustria, por exemplo.
E existem também diferentes mecanismos relacionados com o pagamento propriamente dito, desde o normal efetuado em cada ano, aos sistemas de empréstimo, ao pagamento apenas após a graduação e em função dos rendimentos auferidos, ao papel do Estado ou de Bancos como intermediários ou garante.
Uma coisa é certa: não há, em lugar algum, ensino gratuito: o ensino superior tem custos e alguém os suporta. Trata-se, isso sim, de definir quem paga, em que proporção, como e quando. Podem ser os contribuintes, os estudantes e as suas famílias, os estudantes já não enquanto tal mas enquanto trabalhadores, ou, porque não, também os próprios empregadores? Ou ainda uma combinação de tudo isto em função de decisões sobre a responsabilidade no ensino, o colectivo e o individual, possibilidades de escolha, gastos no presente e expectativas de ganhos no futuro.
É uma discussão ideológica, e ainda bem que assim é!
terça-feira, 4 de novembro de 2014
Merkel, os licenciados e eu.
Por feitio e por aprendizagem não costumo reagir de pronto a notícias. Principalmente quando as mesmas suscitam, de imediato, reações empolgadas. Não reagir, pelo menos sem primeiro tentar ouvir de viva voz, perceber o contexto e refletir um pouco. Qualquer comunicação, mesmo que intermediada, ou talvez ainda mais quando intermediada, presta-se a muitos equívocos, com ou sem intenção. Problema no emissor, no canal de comunicação, no recetor. Falta de sintonia. Contextos diferentes. Línguas ou linguagens distintas. Bagagem variada. Códigos. Termos.
Vem isto a propósito do que Angela Merkel disse sobre o excesso de licenciados em Portugal. De alguns dados que surgiram. E da hipersensibilidade gerada pelo facto de ser um discurso da Grosse Deutschland, escutado no Kleine Portugal. Não encontrei a versão original, que também de pouco me serviria, uma vez que de alemão pouco mais sei do que umas quantas palavras e entendo uma ou outra frase.
Fiquemo-nos pois pela imprensa nacional e, aqui, pelo Diário de Notícias:
"A chanceler alemã, Angela Merkel, disse hoje que países como Portugal e Espanha têm demasiados licenciados, o que faz com que não tenham noção das vantagens do ensino vocacional. Citada pela agência de informação financeira Bloomberg, a chanceler alemã afirmou que o enfoque nos estudos universitários como um feito de topo da carreira é algo do qual deve haver um afastamento. "Caso contrário, não conseguiremos persuadir países como Espanha e Portugal, que têm demasiados licenciados", dos benefícios do ensino vocacional, acrescentou a líder alemã, (...).
De acordo com dados do gabinete de estatísticas europeu, em 2013, 25,3% da população da União Europeia entre os 15 e os 64 anos tinha completado estudos superiores, enquanto a percentagem portuguesa era de 17,6% e a alemã de 25,1%."
Algumas notas sobre o assunto, em jeito telegráfico.
1. Os sistemas de ensino superior são diferentes de país para país.
2. A designação "licenciados" não é internacional, sendo portanto uma tradução/interpretação.
3. Em Portugal a maioria das licenciaturas tem a duração de três anos e corresponde ao "bachelor".
4. Há bem pouco tempo, essa duração de estudos no ensino superior originava "bacharéis".
5. E os licenciados tinham 4 ou 5 anos de formação.
6. O discurso parece falar de licenciados e de ensino vocacional.
7. O sistema alemão inclui cursos de dois anos no âmbito do "ensino superior curto".
8. Estes cursos, de âmbito vocacional ou profissionalizante, têm um número significativo de alunos.
9. O governo português enveredou por esta via, criando, este ano, os chamados TeSP.
10. O contexto da intervenção parece ser este: o do predomínio em Portugal (exclusividade até ao momento) do ensino superior conducente a, pelo menos, "licenciados", face a outros percursos possíveis de ensino superior, mais "curtos" e "vocacionais".
11. A ser assim não se trata de uma apreciação, em absoluto, do número de licenciados nacionais.
12. As estatísticas apresentadas referem-se à conclusão de estudos superiores.
13. Abrangem cursos curtos e não apenas licenciaturas.
14. Há quem refira que a referida medida do Governo é, precisamente, para jogar nesta estatística.
Uma conclusão é certa: o trabalho jornalístico foi pobre. Falta de conhecimento destes meandros? Falta de estudo? Procura de um título e notícia com "impacto"?
Sociedade da informação
Sociedade da comunicação.
Sociedade do conhecimento: não estamos lá.
Vem isto a propósito do que Angela Merkel disse sobre o excesso de licenciados em Portugal. De alguns dados que surgiram. E da hipersensibilidade gerada pelo facto de ser um discurso da Grosse Deutschland, escutado no Kleine Portugal. Não encontrei a versão original, que também de pouco me serviria, uma vez que de alemão pouco mais sei do que umas quantas palavras e entendo uma ou outra frase.
Fiquemo-nos pois pela imprensa nacional e, aqui, pelo Diário de Notícias:
"A chanceler alemã, Angela Merkel, disse hoje que países como Portugal e Espanha têm demasiados licenciados, o que faz com que não tenham noção das vantagens do ensino vocacional. Citada pela agência de informação financeira Bloomberg, a chanceler alemã afirmou que o enfoque nos estudos universitários como um feito de topo da carreira é algo do qual deve haver um afastamento. "Caso contrário, não conseguiremos persuadir países como Espanha e Portugal, que têm demasiados licenciados", dos benefícios do ensino vocacional, acrescentou a líder alemã, (...).
De acordo com dados do gabinete de estatísticas europeu, em 2013, 25,3% da população da União Europeia entre os 15 e os 64 anos tinha completado estudos superiores, enquanto a percentagem portuguesa era de 17,6% e a alemã de 25,1%."
Algumas notas sobre o assunto, em jeito telegráfico.
1. Os sistemas de ensino superior são diferentes de país para país.
2. A designação "licenciados" não é internacional, sendo portanto uma tradução/interpretação.
3. Em Portugal a maioria das licenciaturas tem a duração de três anos e corresponde ao "bachelor".
4. Há bem pouco tempo, essa duração de estudos no ensino superior originava "bacharéis".
5. E os licenciados tinham 4 ou 5 anos de formação.
6. O discurso parece falar de licenciados e de ensino vocacional.
7. O sistema alemão inclui cursos de dois anos no âmbito do "ensino superior curto".
8. Estes cursos, de âmbito vocacional ou profissionalizante, têm um número significativo de alunos.
9. O governo português enveredou por esta via, criando, este ano, os chamados TeSP.
10. O contexto da intervenção parece ser este: o do predomínio em Portugal (exclusividade até ao momento) do ensino superior conducente a, pelo menos, "licenciados", face a outros percursos possíveis de ensino superior, mais "curtos" e "vocacionais".
11. A ser assim não se trata de uma apreciação, em absoluto, do número de licenciados nacionais.
12. As estatísticas apresentadas referem-se à conclusão de estudos superiores.
13. Abrangem cursos curtos e não apenas licenciaturas.
14. Há quem refira que a referida medida do Governo é, precisamente, para jogar nesta estatística.
Uma conclusão é certa: o trabalho jornalístico foi pobre. Falta de conhecimento destes meandros? Falta de estudo? Procura de um título e notícia com "impacto"?
Sociedade da informação
Sociedade da comunicação.
Sociedade do conhecimento: não estamos lá.
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Grandes Opções do Plano - Ensino Superior
Eis as Grandes Opções do Plano para 2015, no que diz respeito ao Ensino Superior. Valem o que valem: as de 2014 não continham, por exemplo, a referência aos programas que acabaram por ser lançados - Retomar e +Superior -, e que figuram agora nas Opções de 2015, talvez para ficarem inscritas; várias outras foram descartadas. Vejamos então as que se anunciam para o próximo ano.
"Adequar a oferta formativa às necessidades do país em termos de quadros qualificados, através da divulgação das taxas de empregabilidade por curso e por Instituição de Ensino Superior (IES), da aposta nas áreas de ciências, engenharia, tecnologia, matemática e informática, e da redução de vagas em cursos com reduzida saída profissional. Foram criados os novos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (TeSP), de 120 ECTS, formação a ser ministrada em ambiente de ensino politécnico, de nível 5 na ISCED (International Standard Classification of Education). A oferta de formação deste nível deve ter uma forte inserção regional, concretizada ao nível da sua criação, definição dos planos de estudos e concretização da componente de formação em contexto de trabalho, na interação obrigatória com as empresas e associações empresariais da região;"
Texto praticamente igual ao que figurava no ano passado, com a atualização dos tempos verbais referentes aos TeSP.
"Consolidar a rede de instituições de ensino superior públicas como forma de as tornar mais atrativas e sustentáveis, incentivando a sua consolidação com as unidades orgânicas de menor dimensão e fixando limites mínimos ao número de vagas disponível para cada curso;"
Uma das diferenças significativas. Há um ano escrevia-se "racionalizar a rede", "optimização de recursos" e "áreas de coordenação regional". Agora as palavras são "consolidar" e "incentivar". Mantém-se a questão da existência de limites mínimos de vagas para cada curso. À atenção de cursos com reduzida procura.
"Proceder a uma densificação da figura jurídica do consórcio entre Instituições de Ensino Superior;"
Frase elucidativa que já figurava. A figura continua, parece, algo etérea. Desvaneceu-se, por outro lado, a intenção de "reforçar a capacidade de gestão das IES [Instituições de Ensino Superior] através da revisão do regime jurídico das IES". Uma das Grandes Opções que não se concretizou e que agora perde o estatuto de Grande e, provavelmente, mesmo de Opção. Uma das principais bandeiras do Ministro, quando recém-empossado: acabar com as fundações, criar um regime de autonomia reforçada.
"Reforçar a garantia de qualidade dos ciclos de estudos e aumentar o sucesso escolar, evidenciando a diversidade relativamente a conteúdos e objetivos;"
Uma nova Opção.
"Assegurar a continuidade da política de ação social, tornando-a mais justa e eficiente, através da manutenção da atribuição de bolsas de estudo a estudantes economicamente carenciados com aproveitamento académico. No ano letivo de 2012-2013, o número de bolsas de estudo atribuídas foi de 58 800, tendo-se registado um aumento no ano letivo de 2013-2014 com a atribuição de 62 200;"
Semelhante.
"Reforçar a atratividade das IES portuguesas para os estudantes estrangeiros, através da aprovação do estatuto do estudante internacional, fomentando a captação destes estudantes e facilitando o seu ingresso através de um regime específico;"
Idêntico apesar de o regime já ter sido criado ...
"Promover junto dos candidatos ao ensino superior a oferta educativa das regiões com menor pressão demográfica, contribuindo para a coesão territorial pela fixação de jovens qualificados, nomeadamente através da criação do Programa +Superior;"
"Proceder à adoção de medidas que visem evitar o abandono escolar, promover o reingresso e o sucesso dos percursos formativos dos estudantes do ensino superior e desenvolver formas de captação de novos estudantes, através da implementação do programa Retomar."
Os referidos programas já lançados ...
Estão feitas as Opções.
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
2014 - Inverno
Em 2014 identifiquei dez temas para o ano do Ensino Superior em Portugal. Eis uma repescagem do sucedido no primeiro trimestre (T1), e uma nova avaliação nesta reta final (T3), já dentro do último trimestre.
Alteração ao Regime Jurídico e redefinição do estatuto de autonomia.
T1: Sai do congelador um par de vezes por ano, para fazer manchetes.
T3: Em profunda letargia à espera do novo ano ou da nova legislatura.
Ação 0 - Hibernação 1
Diferenciação entre ensino universitário e politécnico.
T1: Aqui é mesmo arca frigorífica; não se conhece qualquer ideia.
T3: Nada a acrescentar.
Ação 0 - Hibernação 2
Reorganização da rede de ensino superior.
T1: Sempre um dos favoritos do público. Alguma ação institucional mas de baixa temperatura.
T3: Anúncios de consórcios ou de cooperações reforçadas mas ainda sem tradução visível.
Ação 0 - Hibernação 3
Modelo de financiamento.
T1: Parece que irá ser estudado um dia. O atual data de 2003 e não é aplicado. "On the rocks".
T3: Começou a mexer, mas o calendário político e o calendário técnico não eram comnpatíveis.
Ação 0 - Hibernação 4
Execução orçamental.
T1: Em análise com recurso ao super slow motion.
T3: O Governo efetuou um reforço orçamental, embora inferior ao solicitado pelo CRUP.
Ação 1 - Hibernação 4
Cursos Superiores de Especialização.
T1: Criada a possibilidade de criação dos ditos, por ação legislativa. Recebido com apupos.
T3: Estiveram para não avançar; mudaram de nome; arrancam alguns já neste ano letivo.
Ação 2 - Hibernação 4
Regras para a definição de vagas.
T1: Demoram a descongelar, impedindo qualquer ação que não seja reativa.
T3: Mantém-se a sua definição em cima dos prazos. Não há razão para não terem maior estabilidade.
Ação 2 - Hibernação 5
Evolução da procura de cursos superiores.
T1: Em análise apenas na segunda parte do ano.
T3: Mais candidatos; quase o mesmo número de colocados; problemas sérios em algumas áreas; dominam as abordagens conservadoras.
Ação 2 - Hibernação 6
Internacionalização e o Estatuto do Estudante Internacional.
T1: Criado o Estatuto. Ações preparatórias em curso. Resultado a acompanhar.
T3: Em funcionamento neste ano letivo; balanço de entradas ainda por fazer.
Ação 3 - Hibernação 6
As pessoas. As que fazem a sociedade e que devem afirmar o que querem para o País.
T1: Dever, devem. Ouvem-se algumas vozes. Nada suficientemente mobilizador.
T3: Agitação na ciência; silêncio no ensino superior; e muitos dos protagonistas são os mesmos.
Ação 3 - Hibernação 7
O inverno é longo.
Os sons abafados.
A luz ténue.
E tudo demasiado lento.
Alteração ao Regime Jurídico e redefinição do estatuto de autonomia.
T1: Sai do congelador um par de vezes por ano, para fazer manchetes.
T3: Em profunda letargia à espera do novo ano ou da nova legislatura.
Ação 0 - Hibernação 1
Diferenciação entre ensino universitário e politécnico.
T1: Aqui é mesmo arca frigorífica; não se conhece qualquer ideia.
T3: Nada a acrescentar.
Ação 0 - Hibernação 2
Reorganização da rede de ensino superior.
T1: Sempre um dos favoritos do público. Alguma ação institucional mas de baixa temperatura.
T3: Anúncios de consórcios ou de cooperações reforçadas mas ainda sem tradução visível.
Ação 0 - Hibernação 3
Modelo de financiamento.
T1: Parece que irá ser estudado um dia. O atual data de 2003 e não é aplicado. "On the rocks".
T3: Começou a mexer, mas o calendário político e o calendário técnico não eram comnpatíveis.
Ação 0 - Hibernação 4
Execução orçamental.
T1: Em análise com recurso ao super slow motion.
T3: O Governo efetuou um reforço orçamental, embora inferior ao solicitado pelo CRUP.
Ação 1 - Hibernação 4
Cursos Superiores de Especialização.
T1: Criada a possibilidade de criação dos ditos, por ação legislativa. Recebido com apupos.
T3: Estiveram para não avançar; mudaram de nome; arrancam alguns já neste ano letivo.
Ação 2 - Hibernação 4
Regras para a definição de vagas.
T1: Demoram a descongelar, impedindo qualquer ação que não seja reativa.
T3: Mantém-se a sua definição em cima dos prazos. Não há razão para não terem maior estabilidade.
Ação 2 - Hibernação 5
Evolução da procura de cursos superiores.
T1: Em análise apenas na segunda parte do ano.
T3: Mais candidatos; quase o mesmo número de colocados; problemas sérios em algumas áreas; dominam as abordagens conservadoras.
Ação 2 - Hibernação 6
Internacionalização e o Estatuto do Estudante Internacional.
T1: Criado o Estatuto. Ações preparatórias em curso. Resultado a acompanhar.
T3: Em funcionamento neste ano letivo; balanço de entradas ainda por fazer.
Ação 3 - Hibernação 6
As pessoas. As que fazem a sociedade e que devem afirmar o que querem para o País.
T1: Dever, devem. Ouvem-se algumas vozes. Nada suficientemente mobilizador.
T3: Agitação na ciência; silêncio no ensino superior; e muitos dos protagonistas são os mesmos.
Ação 3 - Hibernação 7
O inverno é longo.
Os sons abafados.
A luz ténue.
E tudo demasiado lento.
sábado, 27 de setembro de 2014
Mais superior
Texto do primeiro Click de Outono, que passou hoje, na Antena 1.
Neste ano letivo serão atribuídas 1000 bolsas, de 1500€ cada, a candidatos ao ensino superior, que residam no litoral e ingressem em universidades e politécnicos maioritariamente localizados no interior do país. É o programa + Superior, que conta com uma dotação de um milhão e meio de euros, e que visa, diz o Governo, atrair jovens para regiões em perda demográfica e melhor utilizar a capacidade educativa instalada. Uma boa notícia para um milhar de alunos.
Após o apregoado excesso da rede de ensino superior, a apologia das fusões e o elogio dos consórcios – áreas em que quase nada aconteceu – surge agora o estímulo à mobilidade de sentido único: do litoral para o interior. Mas esta medida, configurada como está, parece ignorar o país real, as razões da escolha de um curso e os próprios dados; e sobrevaloriza o poder do dinheiro – de algum dinheiro - como motor da mudança demográfica. Vejamos o que parece não ter sido contemplado.
Em primeiro lugar a oferta de cursos não é uniforme. Quem quiser estudar Direito, por exemplo, uma área que capta mais de 1200 alunos por ano, apenas o poderá fazer em Braga, Porto, Coimbra ou Lisboa. Litoral. No interior: zero.
Em segundo lugar, o balanço final depende não só da mobilidade para o interior, mas também dos que ficam e dos que de lá saem. E aqui não há qualquer estímulo para travar o movimento em direção à costa.
Em terceiro lugar, já existem fluxos, em alguns casos consideráveis, para o interior do País: no ano passado Castelo Branco fixou apenas 350 candidatos do distrito, mas atraiu mais de mil de outras regiões; Vila Real recebeu mais estudantes do Porto do que do próprio distrito.
Em quarto lugar, uma boa parte dos candidatos com melhores notas - que agora receberão bolsa - já teriam feito as suas escolhas por cursos e instituições do interior, por muitas outras razões. O incentivo não se traduz, assim, automaticamente, num aumento da mobilidade. Para o assegurar seriam precisas mais bolsas e de maior valor.
Mudanças verdadeiramente estruturais poderiam ser alcançadas através de outras medidas: alterar a distribuição nacional de vagas; mobilizar pessoas e verbas para as zonas escolhidas; construir mais projetos que atraíssem pela qualidade e pela diferenciação. Mas talvez não seja isso que se pretende.
Neste ano letivo serão atribuídas 1000 bolsas, de 1500€ cada, a candidatos ao ensino superior, que residam no litoral e ingressem em universidades e politécnicos maioritariamente localizados no interior do país. É o programa + Superior, que conta com uma dotação de um milhão e meio de euros, e que visa, diz o Governo, atrair jovens para regiões em perda demográfica e melhor utilizar a capacidade educativa instalada. Uma boa notícia para um milhar de alunos.
Após o apregoado excesso da rede de ensino superior, a apologia das fusões e o elogio dos consórcios – áreas em que quase nada aconteceu – surge agora o estímulo à mobilidade de sentido único: do litoral para o interior. Mas esta medida, configurada como está, parece ignorar o país real, as razões da escolha de um curso e os próprios dados; e sobrevaloriza o poder do dinheiro – de algum dinheiro - como motor da mudança demográfica. Vejamos o que parece não ter sido contemplado.
Em primeiro lugar a oferta de cursos não é uniforme. Quem quiser estudar Direito, por exemplo, uma área que capta mais de 1200 alunos por ano, apenas o poderá fazer em Braga, Porto, Coimbra ou Lisboa. Litoral. No interior: zero.
Em segundo lugar, o balanço final depende não só da mobilidade para o interior, mas também dos que ficam e dos que de lá saem. E aqui não há qualquer estímulo para travar o movimento em direção à costa.
Em terceiro lugar, já existem fluxos, em alguns casos consideráveis, para o interior do País: no ano passado Castelo Branco fixou apenas 350 candidatos do distrito, mas atraiu mais de mil de outras regiões; Vila Real recebeu mais estudantes do Porto do que do próprio distrito.
Em quarto lugar, uma boa parte dos candidatos com melhores notas - que agora receberão bolsa - já teriam feito as suas escolhas por cursos e instituições do interior, por muitas outras razões. O incentivo não se traduz, assim, automaticamente, num aumento da mobilidade. Para o assegurar seriam precisas mais bolsas e de maior valor.
Mudanças verdadeiramente estruturais poderiam ser alcançadas através de outras medidas: alterar a distribuição nacional de vagas; mobilizar pessoas e verbas para as zonas escolhidas; construir mais projetos que atraíssem pela qualidade e pela diferenciação. Mas talvez não seja isso que se pretende.
domingo, 21 de setembro de 2014
Azul
Atravessei dias.
Cinzentos; verdes; castanhos; amarelos; vermelhos.
De cores intensas ou de cores desfeitas.
Tantos que podem fazer um ano.
Sobrevoei terras.
Grandes e pequenas.
Cheias ou desertas.
De gente ou apenas de vida.
Tantas que podiam ser um país.
Até que, finalmente, cheguei ao Azul.
Do céu quase sem ondas.
Do mar quase sem nuvens.
Do silêncio do vento.
Do ar quente que refresca.
Mudo de cor.
Se ficar o suficiente, também eu serei Azul.
Cinzentos; verdes; castanhos; amarelos; vermelhos.
De cores intensas ou de cores desfeitas.
Tantos que podem fazer um ano.
Sobrevoei terras.
Grandes e pequenas.
Cheias ou desertas.
De gente ou apenas de vida.
Tantas que podiam ser um país.
Até que, finalmente, cheguei ao Azul.
Do céu quase sem ondas.
Do mar quase sem nuvens.
Do silêncio do vento.
Do ar quente que refresca.
Mudo de cor.
Se ficar o suficiente, também eu serei Azul.
domingo, 14 de setembro de 2014
Um 11 de setembro na América
Há datas que ficam marcadas, mesmo por cima de outras, igualmente marcantes. Porque são mais intensas, mais vividas, mais próximas, mais vistas, com uma memória mais construída. Quando se fala no 11 de setembro vemos as imagens das torres gémeas, do incêndio, dos aviões, das pessoas. Assistidas em direto, repetidas, documentadas, comentadas. Reforçadas pelas imagens da Nova Iorque de hoje, sem as torres mas com as torres, amputada.
Passou mais um 11 de setembro. Na América, mas noutra América, a data toma um significado diferente. Na América do Sul. No Chile. Lembra 1973. E registos de rádio.
São 08h45 em Santiago. O Presidente da República, Salvador Allende, fala novamente pela rádio.
"Companheiros que me escutais. A situação é crítica, enfrentamos um golpe de Estado no qual participa a maioria das forças armadas. Neste hora fatídica, quero recordar-vos algumas das minhas palavras proferidas no ano de 1971; digo-as com calma, com absoluta tranquilidade, não tenho feitio de apóstolo nem de messias. Não tenho condições de mártir, sou um lutador social que cumpre a tarefa que o povo lhe confiou. Porém, que o entendam aqueles que querem fazer recuar a História e ignorar a vontade maioritária do Chile; não tendo corpo de mártir, não darei um passo atrás. Que o saibam, que o oiçam, que o gravem profundamente: deixarei La Moneda quando cumprir o mandato que o povo me confiou, defenderei esta revolução chilena e defenderei o governo porque foi esse o mandato que o povo me entregou. Não tenho outra alternativa. Só crivando-me de balas poderão impedir a vontade que é fazer cumprir o programa do povo. Se me assassinarem, o povo continuará no seu rumo, prosseguirá o caminho, talvez com a diferença de que as coisas serão muito mais duras, muito mais violentas, porque será uma lição objectiva muito clara para as massas de que esta gente não se detém perante nada. Tinha previsto esta possibilidade, não a ofereço nem a facilito. (...)"
Passou mais um 11 de setembro. Na América, mas noutra América, a data toma um significado diferente. Na América do Sul. No Chile. Lembra 1973. E registos de rádio.
São 08h45 em Santiago. O Presidente da República, Salvador Allende, fala novamente pela rádio.
"Companheiros que me escutais. A situação é crítica, enfrentamos um golpe de Estado no qual participa a maioria das forças armadas. Neste hora fatídica, quero recordar-vos algumas das minhas palavras proferidas no ano de 1971; digo-as com calma, com absoluta tranquilidade, não tenho feitio de apóstolo nem de messias. Não tenho condições de mártir, sou um lutador social que cumpre a tarefa que o povo lhe confiou. Porém, que o entendam aqueles que querem fazer recuar a História e ignorar a vontade maioritária do Chile; não tendo corpo de mártir, não darei um passo atrás. Que o saibam, que o oiçam, que o gravem profundamente: deixarei La Moneda quando cumprir o mandato que o povo me confiou, defenderei esta revolução chilena e defenderei o governo porque foi esse o mandato que o povo me entregou. Não tenho outra alternativa. Só crivando-me de balas poderão impedir a vontade que é fazer cumprir o programa do povo. Se me assassinarem, o povo continuará no seu rumo, prosseguirá o caminho, talvez com a diferença de que as coisas serão muito mais duras, muito mais violentas, porque será uma lição objectiva muito clara para as massas de que esta gente não se detém perante nada. Tinha previsto esta possibilidade, não a ofereço nem a facilito. (...)"
Extrato de 50 Grandes Discursos da História, M. Robalo e M.Mata
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
Contribuímos para um povo mais culto?
Uma bela síntese para reflexão em 2014, quase setenta anos depois de ter visto a luz em livro, ou, melhor dizendo, para reflexão em qualquer dia, em qualquer tempo, em qualquer lugar.
"Os povos serão cultos na medida que entre eles crescer o número dos que se negam a aceitar qualquer benefício dos que podem; dos que se mantêm sempre vigilantes em defesa dos oprimidos não porque tenham este ou aquele credo político, mas por isso mesmo, porque são oprimidos e neles se quebram as leis da Humanidade e da razão; dos que se levantam, sinceros e corajosos, ante as ordens injustas, não também porque saem de um dos campos em luta, mas por serem injustas; dos que acima de tudo defendem o direito de pensar e de ser digno".
Pensamento publicado no Diário de Alcestes, em 1945, e recolhido no livro "Citações e Pensamentos de Agostinho da Silva".
"Os povos serão cultos na medida que entre eles crescer o número dos que se negam a aceitar qualquer benefício dos que podem; dos que se mantêm sempre vigilantes em defesa dos oprimidos não porque tenham este ou aquele credo político, mas por isso mesmo, porque são oprimidos e neles se quebram as leis da Humanidade e da razão; dos que se levantam, sinceros e corajosos, ante as ordens injustas, não também porque saem de um dos campos em luta, mas por serem injustas; dos que acima de tudo defendem o direito de pensar e de ser digno".
Pensamento publicado no Diário de Alcestes, em 1945, e recolhido no livro "Citações e Pensamentos de Agostinho da Silva".
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
Baixando as Expectativas Sempre - BES
O caso BES mostra bem porque há uma generalizada falta de confiança, que atinge políticos, economistas, empresários, dirigentes, comentadores, jornalistas. Um apanhado de duas ou três semanas de declarações sobre o BES seria bem elucidativo. E daria qualquer coisa como isto:
Os problemas do setor não financeiro do grupo não contaminarão o Banco.
O BES não é o GES.
O Banco é muito sólido.
Mesmo que o Banco venha a ter problemas há um almofada suficiente.
Não afetará os outros bancos nem a economia.
Não será necessário o Estado intervir.
O Estado acompanha com atenção este problema privado.
Há ligações entre o BES e empresas do GES que não se conheciam.
Terá que existir uma recapitalização.
Existirão efeitos na economia.
Espera-se que a economia seja resiliente a mais esta adversidade.
Há investidores interessados no BES.
Os prejuízos são muito superiores ao previsto.
Suspendam-se as transações do BES.
O Estado vai entrar no Banco.
Há o que não se sabe.
Há o que se julga saber.
Há o que se sabe e não se diz.
E há a realidade.
Os problemas do setor não financeiro do grupo não contaminarão o Banco.
O BES não é o GES.
O Banco é muito sólido.
Mesmo que o Banco venha a ter problemas há um almofada suficiente.
Não afetará os outros bancos nem a economia.
Não será necessário o Estado intervir.
O Estado acompanha com atenção este problema privado.
Há ligações entre o BES e empresas do GES que não se conheciam.
Terá que existir uma recapitalização.
Existirão efeitos na economia.
Espera-se que a economia seja resiliente a mais esta adversidade.
Há investidores interessados no BES.
Os prejuízos são muito superiores ao previsto.
Suspendam-se as transações do BES.
O Estado vai entrar no Banco.
Há o que não se sabe.
Há o que se julga saber.
Há o que se sabe e não se diz.
E há a realidade.
domingo, 27 de julho de 2014
Duas cidades
A cidade que era uma, como costumam ser as cidades, dividiu-se. E como não há cidades-meias ou meias-cidades, onde antes havia uma passaram a existir duas. Uma cidade com bairros esvaziados, vazios de pessoas, de carros, de vozes. Com janelas fechadas, persianas corridas, casas que dormem. Com espaço que cresceu, nas ruas, para os pássaros, para as pedras, para o silêncio. Ficaram,à noite, as mesmas luzes, fazendo sombras diferentes. Cidade abandonada. Enquanto esta se esvazia há, ao lado, outra que se enche. Atravessada por sandálias com gente em cima. Vista por olhares filtrados por lentes. Capturada pelas máquinas. Com sons de outras paragens, vozes de outras línguas. Cores, muitos tons, nas roupas e na pele. Gente conquistando a cidade, esta cidade, sobre dois pés ou duas rodas. Barcos repletos de novos descobridores, que desbravam os canais estreitos, antes de se lançarem numa nova invasão, em busca de comida, de troféus para mais tarde recordar, de um novo ponto no mapa, ou de uma simples sombra. Saberão eles que, na sua ausência, as suas próprias cidades se dividiram, e, também elas, não são agora uma, mas duas?
sábado, 26 de julho de 2014
Letras errantes
Há muito que as letras não se juntam.
Andam soltas, dispersas, sem rumo.
Na corrente ou contra a corrente.
Letras errantes.
Em colisão, amontoadas, enredadas.
Breves encontros, mal fazendo uma palavra.
Esboços de frases.
Fragmentos de ideias.
À espera.
À espera de fazer sentido.
Andam soltas, dispersas, sem rumo.
Na corrente ou contra a corrente.
Letras errantes.
Em colisão, amontoadas, enredadas.
Breves encontros, mal fazendo uma palavra.
Esboços de frases.
Fragmentos de ideias.
À espera.
À espera de fazer sentido.
quinta-feira, 12 de junho de 2014
Mercados aplaudem TC
11 de junho fica marcado pelo forte aplauso dos mercados ao Tribunal Constitucional, traduzido na comprar de mais dívida pública portuguesa do que o previso e aos juros mais baixos de quase uma década. Esta seria a interpretação coerente de quem sempre salientou a importância de ir de encontro às expetativas dos mercados, ou seja, de quem empresta o dinheiro suficiente para que o país vá funcionando. Aprovação ou rejeição de medidas, avaliação de maior ou de menor risco, com reflexo, quase instantâneo nas taxas de juro; mais ainda quando o recurso aos mercados está iminente e, portanto, a avaliação não constitui um mero indicador para o médio prazo mas uma decisão de compra no presente. Ou então as medidas chumbadas foram consideradas, pelos investidores, irrelevantes do ponto de vista da credibilidade externa ou, pelo menos, facilmente substituídas. Sem dramas, nem soluços nos juros. Governo, partidos e comentadores, sempre tão atentos nesta matéria, nada disseram.
terça-feira, 10 de junho de 2014
Entre linhas (4)
Continuação da série sobre as linhas de orientação estratégica para o Ensino Superior, propostas pelo Governo. Linha n.º 3: consolidar a rede de instituições de ensino superior públicas como forma de as tornar mais atrativas e sustentáveis.
Medidas propostas:
- Regulamentar a figura de consórcio;
- Promover a integração das escolas politécnicas não integradas em institutos politécnicos;
- Incentivo à consolidação das instituições e unidades orgânicas com menor dimensão;
- Criar oferta politécnica nas universidades dos Açores e da Madeira;
- Atrair estudantes para as instituições de regiões de menor pressão demográfica.
A chave da rede de ensino superior parece agora passar por consórcios e coordenação regional, deixando aparentemente para segundo plano a fusão ou a discussão sobre o número de instituições, que marcaram as fases iniciais do atual Governo, até pouco depois da fusão entre a Universidade de Lisboa e Universidade Técnica de Lisboa. Fusões que aparecem, agora, condicionadas a uma avaliação prévia "de modo a que sejam demonstrados os ganhos de eficiência e a melhoria nos serviços educativos da produção e da difusão do conhecimento". Seria interessante ver...
Teremos portanto os consórcios, já previstos na Lei, regulamentados e dirigidos para a coordenação da oferta e para a partilha de recursos humanos e materiais. E, neste âmbito, o ponto eventualmente crítico, e diferente do que até agora tem sido feito, é a partilha de recursos humanos, que terá implicações legais em termos de gestão, de carreira ou dos mecanismos de avaliação de cursos. Não é explicitamente abordado, mas esse sim poderia ser um caminho a seguir, é a partilha de serviços entre instituições. Cooperação ou Concorrência? Em que dose? Interna ou Internacional?
Uma vez mais o Governo acentua, também, o cariz predominantemente regional que quer conferir a estes mecanismos, muito questionável num País com a dimensão do nosso.
A integração das escolas politécnicas não integradas é apresentada com base na necessidade de ganhar escala. Discurso contraditório com a apregoada especialização das instituições. Quanto maior for a concentração mais parecidas serão, pelo menos, em abrangência da oferta. Abordagem diferente, talvez mais coerente, seria a sua integração num consórcio, o que permitiria, por exemplo, diluir os custos administrativos próprios.
Já quanto ao programa +Superior, que já tinha sido anunciado, continua tudo por dizer: quais as regiões abrangidas? A atração é apenas pelo poder do dinheiro? As regiões com "menor pressão demográfica" têm a capacidade financeira necessária? E as outras regiões, e instituições, vão ser impedidas de ter mecanismos próprios de atração? A generalidade das instituições têm programas próprios quer de atribuição de prémios ou bolsas, quer de apoio social, que funcionam como instrumentos de atração.
Isso não implicará, necessariamente, quer uma redistribuição das vagas quer dos próprios cursos? Veja-se, por exemplo, onde há cursos de Direito (e com muitas vagas abertas anualmente): apenas em Braga, Porto, Coimbra e Lisboa. O interior é paisagem.
Não se conhecem estudos que fundamentem estas linhas, que, na verdade, não dão grande orientação estratégica. Ficamos a aguardar pelas táticas.
Medidas propostas:
- Regulamentar a figura de consórcio;
- Promover a integração das escolas politécnicas não integradas em institutos politécnicos;
- Incentivo à consolidação das instituições e unidades orgânicas com menor dimensão;
- Criar oferta politécnica nas universidades dos Açores e da Madeira;
- Atrair estudantes para as instituições de regiões de menor pressão demográfica.
A chave da rede de ensino superior parece agora passar por consórcios e coordenação regional, deixando aparentemente para segundo plano a fusão ou a discussão sobre o número de instituições, que marcaram as fases iniciais do atual Governo, até pouco depois da fusão entre a Universidade de Lisboa e Universidade Técnica de Lisboa. Fusões que aparecem, agora, condicionadas a uma avaliação prévia "de modo a que sejam demonstrados os ganhos de eficiência e a melhoria nos serviços educativos da produção e da difusão do conhecimento". Seria interessante ver...
Teremos portanto os consórcios, já previstos na Lei, regulamentados e dirigidos para a coordenação da oferta e para a partilha de recursos humanos e materiais. E, neste âmbito, o ponto eventualmente crítico, e diferente do que até agora tem sido feito, é a partilha de recursos humanos, que terá implicações legais em termos de gestão, de carreira ou dos mecanismos de avaliação de cursos. Não é explicitamente abordado, mas esse sim poderia ser um caminho a seguir, é a partilha de serviços entre instituições. Cooperação ou Concorrência? Em que dose? Interna ou Internacional?
Uma vez mais o Governo acentua, também, o cariz predominantemente regional que quer conferir a estes mecanismos, muito questionável num País com a dimensão do nosso.
A integração das escolas politécnicas não integradas é apresentada com base na necessidade de ganhar escala. Discurso contraditório com a apregoada especialização das instituições. Quanto maior for a concentração mais parecidas serão, pelo menos, em abrangência da oferta. Abordagem diferente, talvez mais coerente, seria a sua integração num consórcio, o que permitiria, por exemplo, diluir os custos administrativos próprios.
Já quanto ao programa +Superior, que já tinha sido anunciado, continua tudo por dizer: quais as regiões abrangidas? A atração é apenas pelo poder do dinheiro? As regiões com "menor pressão demográfica" têm a capacidade financeira necessária? E as outras regiões, e instituições, vão ser impedidas de ter mecanismos próprios de atração? A generalidade das instituições têm programas próprios quer de atribuição de prémios ou bolsas, quer de apoio social, que funcionam como instrumentos de atração.
Isso não implicará, necessariamente, quer uma redistribuição das vagas quer dos próprios cursos? Veja-se, por exemplo, onde há cursos de Direito (e com muitas vagas abertas anualmente): apenas em Braga, Porto, Coimbra e Lisboa. O interior é paisagem.
Não se conhecem estudos que fundamentem estas linhas, que, na verdade, não dão grande orientação estratégica. Ficamos a aguardar pelas táticas.
domingo, 1 de junho de 2014
Os irredutíveis
À moda de uns célebres gauleses a vida política portuguesa desenrola-se, sobretudo, na aldeia que habitam: isolados por paliçadas do resto do mundo; entretidos em lutas entre ferreiros e peixeiros; não com um, mas com vários bardos, uns mais difíceis de silenciar do que outros; e, ocasionalmente, com sumptuosos banquetes. A Europa fica distante, como Roma ficava distante, mesmo que, do lado de fora, estejam os exércitos, vigiando e temendo estes estranhos bárbaros.
As eleições dos emissários não eram, afinal, para as cortes da Europa, mas apenas para português ver. Para Segurix foram um ensaio para os Jogos de 2015. Pareceu estar apurado, pelos mínimos, até que Antonius derrubou um dos carregadores do escudo do chefe, e este tremeu. O próprio diz agora que, num notável avanço democrático, a escolha do candidato para os Jogos será feita como nunca antes, com a participação dos membros de várias tribos. E que nunca se viu um líder que ganha ser contestado, esquecendo-se que em votações anteriores Antonius deu votos à tribo em Olissipo, e que, colocando assim a questão, a vitória não foi afinal do partido, de que ambos e muitos outros fazem parte, mas, pelos vistos, apenas de Segurix e da sua poção mágica. A Europa não existe.
Passus e Portus (não o dos mosqueteiros, que esse andava com outras companhias) perderam e por muito. A biga que comanda os destinos da aldeia com apoio da troika que é, mais ou menos, como uma quadriga com menos um cavalo, agradece o desvio das atenções, evitando assim uma nova cena de revogação de atos irrevogáveis. Apelando às artes ocultas vão mudando a realidade: é preciso fazer mais do que a troika exige; as negociações são difíceis; não fomos nós que negociámos o acordo; fizemos o que devíamos independentemente das imposições; estamos a recuperar a independência; fizemos muitas reformas ou, pelo menos, vários guiões. Mas eis que os Tribunus Maximus decretam que assim não pode ser. Então soltam o bardo Marcus Antonius que ignora as promessas proferidas por todos de cumprir a constituição, aquelas tábuas escritas que são uma chatice mas que, como são de pedra, precisam de uma grande maioria para alterar; e que vocifera contra o cronos da decisão, agora que a troika está quase a ir (afinal ainda não foi?) e se pode arrepender; o que diria se a decisão dos Tribunus não tivesse demorado cinco meses mas apenas três, e fosse tomada em plena avaliação, e tivesse o efeito devido, retroativo? A Europa não existe.
Jeronimus (não o índio) ficou contente. Envia três membros da tribo para a Europa. Mas, como a Europa não existe, o que é preciso é Julius Cavacus apear Passus e Portus, que foi o que os portugueses quiseram dizer. O que vale é que ele, como tantos outros, interpreta bem o que os portugueses quiseram dizer.
Marinhus é uma nova personagem nesta edição revista e aumentada da série sobre os gauleses. Mas, como a Europa não existe, não há nada como tentar trocar o lugar agora conquistado por um que permita intervir na aldeia, numa próxima ida às urnas.
Catarinix perdeu. Nestas ocasiões a matemática dá sempre jeito, bem como umas contas entre direita e esquerda, entre passado e presente, para que, assim, não perca sozinha, apesar de não gostar de dizer que perdeu como Passus e Portus perderam.
A Europa não existe para os irredutíveis políticos. As mudanças em curso na Europa não existem para os irredutíveis políticos. Mesmo que sejam os godos, de este ou de oeste, os visigodos, ostrogodos ou normandos a ditar regras. Mesmo que seja de lá que vêm muitos sestércios, ou marcos ou euros. Mesmo que a Europa não seja, no mundo, o que já foi.
E os irredutíveis políticos não perceberam o que os portugueses, indo ou não votar, quiseram dizer. Continuam nas Guerras dos Chefes, dentro e fora das tribos.
As eleições dos emissários não eram, afinal, para as cortes da Europa, mas apenas para português ver. Para Segurix foram um ensaio para os Jogos de 2015. Pareceu estar apurado, pelos mínimos, até que Antonius derrubou um dos carregadores do escudo do chefe, e este tremeu. O próprio diz agora que, num notável avanço democrático, a escolha do candidato para os Jogos será feita como nunca antes, com a participação dos membros de várias tribos. E que nunca se viu um líder que ganha ser contestado, esquecendo-se que em votações anteriores Antonius deu votos à tribo em Olissipo, e que, colocando assim a questão, a vitória não foi afinal do partido, de que ambos e muitos outros fazem parte, mas, pelos vistos, apenas de Segurix e da sua poção mágica. A Europa não existe.
Passus e Portus (não o dos mosqueteiros, que esse andava com outras companhias) perderam e por muito. A biga que comanda os destinos da aldeia com apoio da troika que é, mais ou menos, como uma quadriga com menos um cavalo, agradece o desvio das atenções, evitando assim uma nova cena de revogação de atos irrevogáveis. Apelando às artes ocultas vão mudando a realidade: é preciso fazer mais do que a troika exige; as negociações são difíceis; não fomos nós que negociámos o acordo; fizemos o que devíamos independentemente das imposições; estamos a recuperar a independência; fizemos muitas reformas ou, pelo menos, vários guiões. Mas eis que os Tribunus Maximus decretam que assim não pode ser. Então soltam o bardo Marcus Antonius que ignora as promessas proferidas por todos de cumprir a constituição, aquelas tábuas escritas que são uma chatice mas que, como são de pedra, precisam de uma grande maioria para alterar; e que vocifera contra o cronos da decisão, agora que a troika está quase a ir (afinal ainda não foi?) e se pode arrepender; o que diria se a decisão dos Tribunus não tivesse demorado cinco meses mas apenas três, e fosse tomada em plena avaliação, e tivesse o efeito devido, retroativo? A Europa não existe.
Jeronimus (não o índio) ficou contente. Envia três membros da tribo para a Europa. Mas, como a Europa não existe, o que é preciso é Julius Cavacus apear Passus e Portus, que foi o que os portugueses quiseram dizer. O que vale é que ele, como tantos outros, interpreta bem o que os portugueses quiseram dizer.
Marinhus é uma nova personagem nesta edição revista e aumentada da série sobre os gauleses. Mas, como a Europa não existe, não há nada como tentar trocar o lugar agora conquistado por um que permita intervir na aldeia, numa próxima ida às urnas.
Catarinix perdeu. Nestas ocasiões a matemática dá sempre jeito, bem como umas contas entre direita e esquerda, entre passado e presente, para que, assim, não perca sozinha, apesar de não gostar de dizer que perdeu como Passus e Portus perderam.
A Europa não existe para os irredutíveis políticos. As mudanças em curso na Europa não existem para os irredutíveis políticos. Mesmo que sejam os godos, de este ou de oeste, os visigodos, ostrogodos ou normandos a ditar regras. Mesmo que seja de lá que vêm muitos sestércios, ou marcos ou euros. Mesmo que a Europa não seja, no mundo, o que já foi.
E os irredutíveis políticos não perceberam o que os portugueses, indo ou não votar, quiseram dizer. Continuam nas Guerras dos Chefes, dentro e fora das tribos.
sábado, 24 de maio de 2014
Um novo modelo de financiamento?
Ao 3.º ano o Governo divulgou seis Linhas de Orientação Estratégica para o Ensino Superior. Uma delas preconizando um novo modelo de financiamento que, diz-se, poderá ser já aplicado no orçamento para 2015. Este tema tem sido objeto de anúncios regulares, mas sem tradução prática. Está em vigor uma lei, de 2003, que prevê a atribuição de financiamento através de uma fórmula, com fatores de quantidade e de qualidade. A realidade porém tem sido bem diferente: a fórmula foi substituída por simples cortes.
O Governo propõe agora um financiamento contratualizado com cada instituição, baseado nos serviços educativos prestados e em indicadores de qualidade, abrangendo o ensino, a produção e transferência de conhecimento, e a melhoria de gestão. Até aqui nada de verdadeiramente novo, pelo que a questão reside no modo e nos detalhes de concretização destas intenções.
Há, desde logo, uma questão de confiança a recuperar: os sucessivos Governos não cumpriram contratos que firmaram, como os que foram estabelecidos com as universidades fundacionais, ou, de um modo muito mais alargado, no que foi precisamente designado por Contrato de … Confiança.
Depois, é necessário conferir uma perspetiva de estabilidade de regras, tornando-as independentes da cor ou do ciclo político, do calendário governativo e mesmo de cada ministro, o que requer, à partida, um entendimento político.
Seguidamente, é fundamental que os dados a utilizar abranjam todo o sistema de ensino superior, sejam fiáveis, validados e integralmente disponibilizados a todos os parceiros, única forma de garantir rigor e transparência. Esta será uma das áreas que requer mais trabalho, em particular quando se quer medir qualidade, impacto e efeitos indirectos da atividade universitária. Por isso, será impossível dispor de uma fórmula robusta e completa para aplicação ao próximo orçamento, o qual deverá estar já a começar a ser preparado. É preferível adoptar uma meta realista -2016-, a ser alcançada sob um novo Governo, o que só reforça a necessidade de uma discussão política alargada.
Mas, para além do modelo em si, que permitirá distribuir um orçamento pelas instituições, é preciso aferir qual o montante que a sociedade está disposta a dedicar a esta setor, em particular quando é reconhecida, por todos, a necessidade de aumentar a percentagem de portugueses com formação superior.
Estamos ainda a discutir princípios demasiado genéricos. É altura de se passar à ação!
O Governo propõe agora um financiamento contratualizado com cada instituição, baseado nos serviços educativos prestados e em indicadores de qualidade, abrangendo o ensino, a produção e transferência de conhecimento, e a melhoria de gestão. Até aqui nada de verdadeiramente novo, pelo que a questão reside no modo e nos detalhes de concretização destas intenções.
Há, desde logo, uma questão de confiança a recuperar: os sucessivos Governos não cumpriram contratos que firmaram, como os que foram estabelecidos com as universidades fundacionais, ou, de um modo muito mais alargado, no que foi precisamente designado por Contrato de … Confiança.
Depois, é necessário conferir uma perspetiva de estabilidade de regras, tornando-as independentes da cor ou do ciclo político, do calendário governativo e mesmo de cada ministro, o que requer, à partida, um entendimento político.
Seguidamente, é fundamental que os dados a utilizar abranjam todo o sistema de ensino superior, sejam fiáveis, validados e integralmente disponibilizados a todos os parceiros, única forma de garantir rigor e transparência. Esta será uma das áreas que requer mais trabalho, em particular quando se quer medir qualidade, impacto e efeitos indirectos da atividade universitária. Por isso, será impossível dispor de uma fórmula robusta e completa para aplicação ao próximo orçamento, o qual deverá estar já a começar a ser preparado. É preferível adoptar uma meta realista -2016-, a ser alcançada sob um novo Governo, o que só reforça a necessidade de uma discussão política alargada.
Mas, para além do modelo em si, que permitirá distribuir um orçamento pelas instituições, é preciso aferir qual o montante que a sociedade está disposta a dedicar a esta setor, em particular quando é reconhecida, por todos, a necessidade de aumentar a percentagem de portugueses com formação superior.
Estamos ainda a discutir princípios demasiado genéricos. É altura de se passar à ação!
domingo, 18 de maio de 2014
Entre linhas (3)
Terceira parte sobre as linhas de orientação estratégica para o ensino superior. Segunda linha estratégica: "Reforçar a garantia de qualidade dos ciclos de estudos, aumentar o sucesso escolar e evidenciar a diversidade quanto a conteúdos e objetivos dos dois subsistemas [universitário e politécnico]", com quatro medidas.
1. Reforço da diferenciação dos ciclos de estudo dos ensinos universitário e politécnico.
Nesta matéria parece não haver ideias muito claras, ou pelo menos explicitadas. O documento refere a "diferenciação da oferta educativa" como instrumento de apoio à redução do sucesso escolar, a apresentação, pelas instituições, de "uma descrição que identifique mais claramente os objetivos de cada ciclo de estudos e a sua conformidade com o subsistema de ensino a que pertencem", o papel da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) na verificação desta correspondência e, ainda, "uma proposta de metodologia no sentido de melhorar a transparências das denominações dos ciclos de estudos."
A A3ES já acredita, atualmente, ciclos de estudo universitários e politécnicos com base em diferentes requisitos, entre outros relativos ao corpo docente. Assim, as iniciativas propostas referem-se essencialmente a aspetos formais. Pouca parra para uma questão tão sensível.
2. Promoção da avaliação dos resultados da aprendizagem.
Aqui uma novidade, a introdução, primeiro em termos experimentais, da figura do examinador externo, para "aferir o nível de aprendizagem exigido pelas instituições". Entende-se a motivação: tornar mais evidentes os níveis de conhecimento e de competências dos diplomados de diferentes ciclos de estudos e de diferentes instituições. Duvido que se atinjam os objetivos propostos, que recorrem duas vezes em três linhas à palavra "simplificado", "determinar se é possível utilizar um mecanismo simplificado que permita aferir o nível de aprendizagem exigido pelas instituições e, em última análise, verificar se por este método pode ser desenvolvido um processo simplificado de avaliação dos learning outcomes". Nem tudo é passível de simplificação. Resta ainda saber como isto se articularia com os Sistemas Internos de Garantia da Qualidade, eles próprios objeto de avaliação pela A3ES. A não prosseguir sem uma análise custo/benefício.
3. Regulamentação da avaliação e acreditação do ensino a distância.
Área que importa, sem dúvida, tornar mais transparente.
4. Promoção do acompanhamento dos estudantes do ensino superior com vista ao seu sucesso escolar.
No texto que acompanha isto concretiza-se num plano de acompanhamento pedagógico nas instituições que aderiram ao programa Retomar, sensibilização das instituições para uma seleção adequada dos candidatos ao segundo ciclo, formações de curta duração dirigidas à melhoria das práticas didáticas. E, ainda, um ajuste aos concursos especiais e regimes de transferência e mudança de curso.
É um domínio de atuação essencialmente interno, que deve ser estratégico para cada instituição de ensino superior, no âmbito da sua autonomia pedagógica. Uma atuação que, para ser bem sucedida, requer tempo de pessoas, estando na primeira linhas os próprios docentes e diretores de curso, mas que se estende a outros serviços de apoio. Tempo que é um recurso não renovável, sob constante pressão, coletiva e individual. Pressão que cresce com a escassez de recursos, a proliferação de solicitações e, eventualmente, de alunos, caso se verifique o aumento da participação no ensino superior e tenha sucesso a atração de estudantes internacionais.
1. Reforço da diferenciação dos ciclos de estudo dos ensinos universitário e politécnico.
Nesta matéria parece não haver ideias muito claras, ou pelo menos explicitadas. O documento refere a "diferenciação da oferta educativa" como instrumento de apoio à redução do sucesso escolar, a apresentação, pelas instituições, de "uma descrição que identifique mais claramente os objetivos de cada ciclo de estudos e a sua conformidade com o subsistema de ensino a que pertencem", o papel da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) na verificação desta correspondência e, ainda, "uma proposta de metodologia no sentido de melhorar a transparências das denominações dos ciclos de estudos."
A A3ES já acredita, atualmente, ciclos de estudo universitários e politécnicos com base em diferentes requisitos, entre outros relativos ao corpo docente. Assim, as iniciativas propostas referem-se essencialmente a aspetos formais. Pouca parra para uma questão tão sensível.
2. Promoção da avaliação dos resultados da aprendizagem.
Aqui uma novidade, a introdução, primeiro em termos experimentais, da figura do examinador externo, para "aferir o nível de aprendizagem exigido pelas instituições". Entende-se a motivação: tornar mais evidentes os níveis de conhecimento e de competências dos diplomados de diferentes ciclos de estudos e de diferentes instituições. Duvido que se atinjam os objetivos propostos, que recorrem duas vezes em três linhas à palavra "simplificado", "determinar se é possível utilizar um mecanismo simplificado que permita aferir o nível de aprendizagem exigido pelas instituições e, em última análise, verificar se por este método pode ser desenvolvido um processo simplificado de avaliação dos learning outcomes". Nem tudo é passível de simplificação. Resta ainda saber como isto se articularia com os Sistemas Internos de Garantia da Qualidade, eles próprios objeto de avaliação pela A3ES. A não prosseguir sem uma análise custo/benefício.
3. Regulamentação da avaliação e acreditação do ensino a distância.
Área que importa, sem dúvida, tornar mais transparente.
4. Promoção do acompanhamento dos estudantes do ensino superior com vista ao seu sucesso escolar.
No texto que acompanha isto concretiza-se num plano de acompanhamento pedagógico nas instituições que aderiram ao programa Retomar, sensibilização das instituições para uma seleção adequada dos candidatos ao segundo ciclo, formações de curta duração dirigidas à melhoria das práticas didáticas. E, ainda, um ajuste aos concursos especiais e regimes de transferência e mudança de curso.
É um domínio de atuação essencialmente interno, que deve ser estratégico para cada instituição de ensino superior, no âmbito da sua autonomia pedagógica. Uma atuação que, para ser bem sucedida, requer tempo de pessoas, estando na primeira linhas os próprios docentes e diretores de curso, mas que se estende a outros serviços de apoio. Tempo que é um recurso não renovável, sob constante pressão, coletiva e individual. Pressão que cresce com a escassez de recursos, a proliferação de solicitações e, eventualmente, de alunos, caso se verifique o aumento da participação no ensino superior e tenha sucesso a atração de estudantes internacionais.
quarta-feira, 14 de maio de 2014
Entre linhas (2)
A primeira linha estratégica do Governo é o aumento da participação no ensino superior, através de três medidas.
A primeira medida é a criação de cursos técnicos superiores profissionais, com diploma enquadrador já publicado. A futura entrada em funcionamento destes cursos será acompanhada, nas instituições de ensino superior politécnico, do desaparecimento dos cursos de especialização tecnológica. Há apenas três anos a opção preconizada era outra: "investimento do ensino politécnico nos cursos de especialização tecnológica [CET] e outras formações de curta duração" (in Programa de Governo, pg. 121). Em 2011 o politécnico devia investir nos CET; em 2014 deve abandoná-los! Este é um exemplo da constante alteração de políticas, insuficientemente fundamentadas, durante um curto ciclo governativo, não só do mesmo Governo, mas com o mesmo Ministro.
Um problema subjacente aos princípios anunciados é o excessivo foco na componente regional: "estreita ligação ao tecido empresarial regional, nomeadamente na definição dos objetivos e programas de estudo e na disponibilização de estágios de qualidade no final da formação." Naturalmente que uma forte componente de estágios requer articulação local. Mas se em demasia, e se acompanhada por outra das bandeiras dos nossos tempos, a especialização das regiões, pode confinar as perspetivas individuais a uma única região, ao que nela existe hoje e que pode não existir amanhã, sobrevalorizando o curto prazo em detrimento do médio prazo, num mundo em que as pessoas e as empresas têm grande mobilidade.
A segunda medida consiste no programa Retomar, já anunciado, mas do qual ainda não se conhecem os detalhes. Na realidade não é, como anunciado, uma medida de combate ao abandono escolar, se este for entendido como a saída do percurso escolar, mas uma medida de retoma deste percurso. Estas Novas Oportunidades no superior envolverão a definição de um plano de recuperação e a atribuição de uma bolsa de frequência. A ver.
A terceira medida é um enunciado vago "manter o esforço para a melhoria da qualificação superior da população ativa", não sendo claro, no desenvolvimento do documento se se refere, unicamente, aos apoios de ação social direta.
De fora ficam medidas dirigidas à população ativa que nunca acedeu ao ensino superior, e que portanto não será abrangida pelo programa Retomar, bem como aos respetivos empregadores.
(continua)
A primeira medida é a criação de cursos técnicos superiores profissionais, com diploma enquadrador já publicado. A futura entrada em funcionamento destes cursos será acompanhada, nas instituições de ensino superior politécnico, do desaparecimento dos cursos de especialização tecnológica. Há apenas três anos a opção preconizada era outra: "investimento do ensino politécnico nos cursos de especialização tecnológica [CET] e outras formações de curta duração" (in Programa de Governo, pg. 121). Em 2011 o politécnico devia investir nos CET; em 2014 deve abandoná-los! Este é um exemplo da constante alteração de políticas, insuficientemente fundamentadas, durante um curto ciclo governativo, não só do mesmo Governo, mas com o mesmo Ministro.
Um problema subjacente aos princípios anunciados é o excessivo foco na componente regional: "estreita ligação ao tecido empresarial regional, nomeadamente na definição dos objetivos e programas de estudo e na disponibilização de estágios de qualidade no final da formação." Naturalmente que uma forte componente de estágios requer articulação local. Mas se em demasia, e se acompanhada por outra das bandeiras dos nossos tempos, a especialização das regiões, pode confinar as perspetivas individuais a uma única região, ao que nela existe hoje e que pode não existir amanhã, sobrevalorizando o curto prazo em detrimento do médio prazo, num mundo em que as pessoas e as empresas têm grande mobilidade.
A segunda medida consiste no programa Retomar, já anunciado, mas do qual ainda não se conhecem os detalhes. Na realidade não é, como anunciado, uma medida de combate ao abandono escolar, se este for entendido como a saída do percurso escolar, mas uma medida de retoma deste percurso. Estas Novas Oportunidades no superior envolverão a definição de um plano de recuperação e a atribuição de uma bolsa de frequência. A ver.
A terceira medida é um enunciado vago "manter o esforço para a melhoria da qualificação superior da população ativa", não sendo claro, no desenvolvimento do documento se se refere, unicamente, aos apoios de ação social direta.
De fora ficam medidas dirigidas à população ativa que nunca acedeu ao ensino superior, e que portanto não será abrangida pelo programa Retomar, bem como aos respetivos empregadores.
(continua)
Entre linhas (1)
Praticamente três anos depois de o Governo entrar em funções e, portanto, a apenas um do final do mandato, eis que são apresentadas as Linhas de Orientação Estratégica para o Ensino Superior, agora em período de discussão pública. Tempo que, podendo ser estranho, não o é de facto, pois nunca se perceberam as orientações estratégicas. Tantos foram já os anúncios não concretizados: revisão do RJIES, extinção das fundações, extinção-que-não-é-extinção-mas-mudança-de-nome-mantendo-o-regime, alteração do modelo de financiamento, defesa de redução da rede de instituições, manutenção da rede de instituições e seu reforço, fusões, consórcios, associações regionais.
A introdução ignora, desde logo, o tempo e em particular os últimos três anos, proclamando a importância de "repensar o nosso sistema de ensino superior público na linha dos compromissos assumidos no Programa do XIX Governo Constitucional e nos termos do enquadramento legal, estabelecido (...)".
Introdução que realça a importância das "qualificações reais", presumo que em contraponto às quaificações imaginárias ou imaginadas, a qualificação da ciência, tecnologia e inovação como "fortes motores da prosperidade e do desenvolvimento económico", que salienta que o desenvolvimento "é um propósito estratégico de qualquer sociedade moderna e é potenciado pelo investimento no capital humano" e que pretende preservar, ou melhor "não negligenciar as culturas humanística e artística, sempre presentes numa educação integral."
O dito Programa do XIX Governo Constitucional, no que se refere ao ensino superior, apresentava os seguintes objetivos:
- A existência de um enquadramento legislativo/regulatório claro, consistente, transparente, para o Ensino Superior em Portugal;
- A manutenção do carácter binário do Ensino Superior em Portugal (universitário e politécnico);
- O reforço as políticas de regulação das instituições e cursos pela qualidade, nomeadamente através de acreditação e avaliação independentes.
As novas linhas estratégicas, após três anos de Governo, são agora:
1. Aumentar a participação no ensino superior, designadamente dos jovens que concluem as diferentes modalidades do ensino secundário, contribuindo para melhorar a sua empregabilidade.
2. Reforçar a garantia de qualidade dos ciclos de estudos, aumentar o sucesso escolar e evidenciar a diversidade quanto a conteúdos e objetivos dos dois subsistemas.
3. Consolidar a rede de instituições de ensino superior públicas como forma de as tornar mais atrativas e sustentáveis.
4. Racionalizar a oferta educativa a nível nacional e regional.
5. Criar um modelo de financiamento que potencie objetivos de gestão, considerando a procura educativa e alguns indicadores de qualidade.
6. Internacionalizar o ensino superior português.
Para além das linhas estratégicas existem, em ambos os casos, medidas, por vezes contraditórias, algumas já concluídas, vagas a maioria das vezes, justifica-se uma análise por partes.
(continua)
A introdução ignora, desde logo, o tempo e em particular os últimos três anos, proclamando a importância de "repensar o nosso sistema de ensino superior público na linha dos compromissos assumidos no Programa do XIX Governo Constitucional e nos termos do enquadramento legal, estabelecido (...)".
Introdução que realça a importância das "qualificações reais", presumo que em contraponto às quaificações imaginárias ou imaginadas, a qualificação da ciência, tecnologia e inovação como "fortes motores da prosperidade e do desenvolvimento económico", que salienta que o desenvolvimento "é um propósito estratégico de qualquer sociedade moderna e é potenciado pelo investimento no capital humano" e que pretende preservar, ou melhor "não negligenciar as culturas humanística e artística, sempre presentes numa educação integral."
O dito Programa do XIX Governo Constitucional, no que se refere ao ensino superior, apresentava os seguintes objetivos:
- A existência de um enquadramento legislativo/regulatório claro, consistente, transparente, para o Ensino Superior em Portugal;
- A manutenção do carácter binário do Ensino Superior em Portugal (universitário e politécnico);
- O reforço as políticas de regulação das instituições e cursos pela qualidade, nomeadamente através de acreditação e avaliação independentes.
As novas linhas estratégicas, após três anos de Governo, são agora:
1. Aumentar a participação no ensino superior, designadamente dos jovens que concluem as diferentes modalidades do ensino secundário, contribuindo para melhorar a sua empregabilidade.
2. Reforçar a garantia de qualidade dos ciclos de estudos, aumentar o sucesso escolar e evidenciar a diversidade quanto a conteúdos e objetivos dos dois subsistemas.
3. Consolidar a rede de instituições de ensino superior públicas como forma de as tornar mais atrativas e sustentáveis.
4. Racionalizar a oferta educativa a nível nacional e regional.
5. Criar um modelo de financiamento que potencie objetivos de gestão, considerando a procura educativa e alguns indicadores de qualidade.
6. Internacionalizar o ensino superior português.
Para além das linhas estratégicas existem, em ambos os casos, medidas, por vezes contraditórias, algumas já concluídas, vagas a maioria das vezes, justifica-se uma análise por partes.
(continua)
quinta-feira, 1 de maio de 2014
Dreaming Dreams
No cabeçalho de uma página da Pohang University of Science And Technology, universidade sul-coreana fundada em 1986 (http://www.postech.ac.kr/):
"Aiming High, Dreaming Dreams and Working with Passion and Integrity".
É a Universidade com menos de 50 anos que melhor cumpre, já por três anos consecutivos, os critérios que são utilizados para o ranking do Times Higher Education.
"Aiming High, Dreaming Dreams and Working with Passion and Integrity".
É a Universidade com menos de 50 anos que melhor cumpre, já por três anos consecutivos, os critérios que são utilizados para o ranking do Times Higher Education.
Engranitados
Eleições passadas. Eleições que se avizinham. Debates com palavras caras, improvisos ensaiados, frases para repetir até à exaustão. Táticas e Taticismos. Ataques, defesas, distrações. Há quem diga que é política ... Mas a política, a política a sério, não é a que se faz em tempo de eleições.
Apregoa-se a importância da economia baseada no conhecimento, da inovação, do empreendedorismo. Tenta-se ajustar a realidade às ideias feitas. Debitam-se e manipulam-se estatísticas, para efeitos de curto prazo. Disfarça-se a ausência de política com a enunciação de objetivos, metas ou simples desejos: convergir com a Europa; maximizar o aproveitamento dos fundos europeus; aumentar a produção científica.
Agora, como há doze anos menos quinze dias atrás, data de um artigo, 15 de maio de 2002:
"Não houve nenhum grande debate nacional sobre política científica, nem sobre o papel da ciência nos dominios da defesa, da energia, do desenvolvimento sustentável, da regulação ou da administração pública. Nas campanhas eleitorais, autárquicas, legislativas ou europeias, a ciência nunca surgiu como tema."
"A revista Futuribles publica no seu número de Março deste ano uma lista de doze questões maiores a colocar aos candidatos à próxima eleição para presidente da República Francesa. Doze questões que a comissão de redacção da revista considera essenciais para o futuro daquele país, um país que vive num regime quasi presidencial. Uma dessas doze questões é a de que tipo de política para a investigação científica é defendida pelo candidato, e nela perpassam os problemas que se põem a uma sociedade europeia avançada que se vê envolta nos turbilhões da globalização financeira e dos mercados: como mobilizar os recursos necessários para estimular os agentes inovadores a garantir o futuro.
"Como se mostra, o mundo dos outros (que, afinal, é o nosso) não pára. Urge, pois, atribuir à ciência o seu papel real na sociedade. Sob pena de não conseguirmos ser mais do que figurantes de uma peça escrita numa língua que não falamos. Sob pena de continuarmos amarrados, engranitados, nas soberbas dos séculos passados."
Por quanto tempo continuaremos engranitados?
Os extratos são de um artigo de João Caraça, que integra a coletânea "À Procura do Portugal Moderno", Campo das Letras, 2003.
Apregoa-se a importância da economia baseada no conhecimento, da inovação, do empreendedorismo. Tenta-se ajustar a realidade às ideias feitas. Debitam-se e manipulam-se estatísticas, para efeitos de curto prazo. Disfarça-se a ausência de política com a enunciação de objetivos, metas ou simples desejos: convergir com a Europa; maximizar o aproveitamento dos fundos europeus; aumentar a produção científica.
Agora, como há doze anos menos quinze dias atrás, data de um artigo, 15 de maio de 2002:
"Não houve nenhum grande debate nacional sobre política científica, nem sobre o papel da ciência nos dominios da defesa, da energia, do desenvolvimento sustentável, da regulação ou da administração pública. Nas campanhas eleitorais, autárquicas, legislativas ou europeias, a ciência nunca surgiu como tema."
"A revista Futuribles publica no seu número de Março deste ano uma lista de doze questões maiores a colocar aos candidatos à próxima eleição para presidente da República Francesa. Doze questões que a comissão de redacção da revista considera essenciais para o futuro daquele país, um país que vive num regime quasi presidencial. Uma dessas doze questões é a de que tipo de política para a investigação científica é defendida pelo candidato, e nela perpassam os problemas que se põem a uma sociedade europeia avançada que se vê envolta nos turbilhões da globalização financeira e dos mercados: como mobilizar os recursos necessários para estimular os agentes inovadores a garantir o futuro.
"Como se mostra, o mundo dos outros (que, afinal, é o nosso) não pára. Urge, pois, atribuir à ciência o seu papel real na sociedade. Sob pena de não conseguirmos ser mais do que figurantes de uma peça escrita numa língua que não falamos. Sob pena de continuarmos amarrados, engranitados, nas soberbas dos séculos passados."
Por quanto tempo continuaremos engranitados?
Os extratos são de um artigo de João Caraça, que integra a coletânea "À Procura do Portugal Moderno", Campo das Letras, 2003.
sexta-feira, 25 de abril de 2014
Liberdade
Liberdade.
De pensar.
De dizer.
De fazer.
Liberdade que precisa de ser alimentada.
No dia-a-dia.
Pela prática.
Por cada um.
Em qualquer lugar.
Se não, aos poucos, deixaremos de fazer.
Depois, calando, deixaremos de dizer.
E, por último, deixaremos de pensar.
"E seria tão fácil sair da temperatura morna e, mais do que ver, apalpar o real, senti-lo com as mãos. E depois mudar. Mudar devagar por dentro antes que tenha de mudar à bruta por fora. Afinal, a liberdade não falhou. A liberdade de expressão. A liberdade de pensar, a liberdade de dizer. E de votar. E de fazer? E de fazer. O 25 de Abril é hoje. Sempre."
Pedro Santos Guerreiro, no Expresso.
De pensar.
De dizer.
De fazer.
Liberdade que precisa de ser alimentada.
No dia-a-dia.
Pela prática.
Por cada um.
Em qualquer lugar.
Se não, aos poucos, deixaremos de fazer.
Depois, calando, deixaremos de dizer.
E, por último, deixaremos de pensar.
"E seria tão fácil sair da temperatura morna e, mais do que ver, apalpar o real, senti-lo com as mãos. E depois mudar. Mudar devagar por dentro antes que tenha de mudar à bruta por fora. Afinal, a liberdade não falhou. A liberdade de expressão. A liberdade de pensar, a liberdade de dizer. E de votar. E de fazer? E de fazer. O 25 de Abril é hoje. Sempre."
Pedro Santos Guerreiro, no Expresso.
sexta-feira, 18 de abril de 2014
Divergir
Em tempos em que tanto se apregoa a necessidade de consenso e as soluções únicas; em que se consideram inoportunas, e até perigosas, as opiniões diferentes; em que se troca o debate aberto por monólogos ensaiados; em que divergir se torna sinónimo de falta de solidariedade; em que se privilegiam as yes-people, ou pelo menos, as people-who-don't-express-opinions:
"A verdade pode ser bastante desconfortável. Promover ativamente a dissensão e a diferença é uma mensagem radical, no entanto há provas gritantes da importância de estar em desacordo, tanto em termos de tomar melhores decisões como de chegar a soluções mais criativas. Pelo facto de termos agora este grande mundo de informação à nossa disposição, nem nos apercebemos da importância do ato de divergir." Noreena Hertz em entrevista ao Expresso.
"A verdade pode ser bastante desconfortável. Promover ativamente a dissensão e a diferença é uma mensagem radical, no entanto há provas gritantes da importância de estar em desacordo, tanto em termos de tomar melhores decisões como de chegar a soluções mais criativas. Pelo facto de termos agora este grande mundo de informação à nossa disposição, nem nos apercebemos da importância do ato de divergir." Noreena Hertz em entrevista ao Expresso.
quinta-feira, 17 de abril de 2014
Mind the gap
Descrições de Universidades na América; que também podiam ser, com algumas diferenças, de Universidades em Portugal ou noutras partes do mundo. Instituições que se tornaram mais complexas à medida que se foram interligando mais com outras partes da sociedade; à medida que foram diversificando a sua atuação; na mesma medida em que as regras aplicáveis a outros domínios das atividades económicas foram entrando nas universidades, questionando, em muitos casos, a sua autonomia.
Extratos de "A University for the 21st the Century", de James Duderstadt, no ano 2000, ao virar do século.
"We might think of a university much like a city. It has buildings and roads, parks and theatres, apartments and neighborhhods - and all require knowledgeable professionals capable of building and maintaining, operating and repairing the infrastructure for the academic programs of the institution.
(...)
In most large universities, staff members outnumber the faculty several fold [não é o caso em Portugal o que tem como consequência, desde logo, que docentes e investigadores desempenham um grande número de tarefas que não são centrais à sua atividade; o que se acentua pelo facto da resistência que ainda existe a delegar tarefas avançadas em pessoal não académico]. They are characterized by a great diversity of roles and activities, experiences, and qualifications. In many areas such as finance, health care and facilities senior staff members have educations and credentials every bit as extensive as faculty members.
(...)
Yet, one of the dilemmas faced in attracting and retaining outstanding staff is the relatively low degree of recognition and reward they usually receive within higher education. (...) Furthermore, the human resource development function in most universities lags far behind its corporate counterparts, with relatively little attention given to career advancement. [de como a "fuga de cérebros" pode ter lugar entre portas, seja por falta de capacidade de concorrer com outras instituições, seja por falta de uma estratégia própria destinada às pessoas, a todas as pessoas].
(...)
Yet there remain many signs of a widening gap between faculty and administrators on many campuses. The rank and file faculty sees the world quite differently from campus administrators. There are significant differences in perceptions and understandings of the challenges and opportunities before higher education. [distâncias que existem não só entre académicos e não-académicos, mas também entre áreas científicas, entre serviços, entre estruturas locais e centrais, entre diferentes categorias profissionais, entre as pessoas]."
Distâncias e barreiras são elementos perigosos na vida.
Mind the gap.
Extratos de "A University for the 21st the Century", de James Duderstadt, no ano 2000, ao virar do século.
"We might think of a university much like a city. It has buildings and roads, parks and theatres, apartments and neighborhhods - and all require knowledgeable professionals capable of building and maintaining, operating and repairing the infrastructure for the academic programs of the institution.
(...)
In most large universities, staff members outnumber the faculty several fold [não é o caso em Portugal o que tem como consequência, desde logo, que docentes e investigadores desempenham um grande número de tarefas que não são centrais à sua atividade; o que se acentua pelo facto da resistência que ainda existe a delegar tarefas avançadas em pessoal não académico]. They are characterized by a great diversity of roles and activities, experiences, and qualifications. In many areas such as finance, health care and facilities senior staff members have educations and credentials every bit as extensive as faculty members.
(...)
Yet, one of the dilemmas faced in attracting and retaining outstanding staff is the relatively low degree of recognition and reward they usually receive within higher education. (...) Furthermore, the human resource development function in most universities lags far behind its corporate counterparts, with relatively little attention given to career advancement. [de como a "fuga de cérebros" pode ter lugar entre portas, seja por falta de capacidade de concorrer com outras instituições, seja por falta de uma estratégia própria destinada às pessoas, a todas as pessoas].
(...)
Yet there remain many signs of a widening gap between faculty and administrators on many campuses. The rank and file faculty sees the world quite differently from campus administrators. There are significant differences in perceptions and understandings of the challenges and opportunities before higher education. [distâncias que existem não só entre académicos e não-académicos, mas também entre áreas científicas, entre serviços, entre estruturas locais e centrais, entre diferentes categorias profissionais, entre as pessoas]."
Distâncias e barreiras são elementos perigosos na vida.
Mind the gap.
quarta-feira, 9 de abril de 2014
Linhas com vida
Uma vida.
Um ponto.
Ponto que se desenrola.
Que se transforma em linha.
Reta, curva, quebrada.
Regular, irregular.
Delgada, espessa, clara, com sombra.
Tracejada. Interrompida. Retomada.
Vidas que são linhas.
Que pairam.
Que ondulam.
Que se intersetam.
Que se aproximam sem nunca se tocarem.
Que se acompanham.
Que se sobrepõem.
Que se separam.
Convergentes, divergentes, paralelas.
Modelares, modulares, normais.
Concêntricas, excêntricas.
Linhas no espaço.
Linhas em espaços.
Naturais.
Reais.
Imaginários.
Complexos.
Linhas no tempo.
Linhas no tempo presente.
Linha que volta a ser um ponto.
Entre o que foi já desenhado e o traço ainda por traçar.
Entre o ponto inicial e o ponto, que sem o saber, será final.
Linhas.
Pontos.
Vidas.
Um ponto.
Ponto que se desenrola.
Que se transforma em linha.
Reta, curva, quebrada.
Regular, irregular.
Delgada, espessa, clara, com sombra.
Tracejada. Interrompida. Retomada.
Vidas que são linhas.
Que pairam.
Que ondulam.
Que se intersetam.
Que se aproximam sem nunca se tocarem.
Que se acompanham.
Que se sobrepõem.
Que se separam.
Convergentes, divergentes, paralelas.
Modelares, modulares, normais.
Concêntricas, excêntricas.
Linhas no espaço.
Linhas em espaços.
Naturais.
Reais.
Imaginários.
Complexos.
Linhas no tempo.
Linhas no tempo presente.
Linha que volta a ser um ponto.
Entre o que foi já desenhado e o traço ainda por traçar.
Entre o ponto inicial e o ponto, que sem o saber, será final.
Linhas.
Pontos.
Vidas.
2014 - 1.º Trimestre: o degelo ainda não chegou.
Em 2014 identifiquei dez temas para o ano do Ensino Superior em Portugal. Acabou o primeiro quarto. Tempo de um breve olhar para o espelho retrovisor.
Alteração ao Regime Jurídico e redefinição do estatuto de autonomia.
Sai do congelador um par de vezes por ano, para fazer manchetes.
Ação 0 - Hibernação 1
Diferenciação entre ensino universitário e politécnico.
Aqui é mesmo arca frigorífica; não se conhece qualquer ideia.
Ação 0 - Hibernação 2
Reorganização da rede de ensino superior.
Sempre um dos favoritos do público. Alguma ação institucional mas de baixa temperatura.
Ação 0 - Hibernação 3
Modelo de financiamento.
Parce que irá ser estudado um dia. O atual data de 2003 e não é aplicado. "On the rocks".
Ação 0 - Hibernação 4
Execução orçamental.
Em análise com recurso ao super slow motion.
Cursos Superiores de Especialização.
Criada a possibilidade de criação dos ditos, por ação legislativa. Recebido com apupos.
Ação 1 - Hibernação 4
Regras para a definição de vagas.
Demoram a descongelar, impedindo qualquer ação que não seja reativa.
Ação 1 - Hibernação 5
Evolução da procura de cursos superiores.
Em análise apenas na segunda parte do ano.
Internacionalização e o Estatuto do Estudante Internacional.
Criado o Estatuto. Ações preparatórias em curso. Resultado a acompanhar.
Ação 2 - Hibernação 5
As pessoas. As que fazem a sociedade e que devem afirmar o que querem para o País.
Dever, devem. Ouvem-se algumas vozes. Nada suficientemente mobilizador.
Ação 2 - Hibernação 6
O degelo ainda não chegou.
Alteração ao Regime Jurídico e redefinição do estatuto de autonomia.
Sai do congelador um par de vezes por ano, para fazer manchetes.
Ação 0 - Hibernação 1
Diferenciação entre ensino universitário e politécnico.
Aqui é mesmo arca frigorífica; não se conhece qualquer ideia.
Ação 0 - Hibernação 2
Reorganização da rede de ensino superior.
Sempre um dos favoritos do público. Alguma ação institucional mas de baixa temperatura.
Ação 0 - Hibernação 3
Modelo de financiamento.
Parce que irá ser estudado um dia. O atual data de 2003 e não é aplicado. "On the rocks".
Ação 0 - Hibernação 4
Execução orçamental.
Em análise com recurso ao super slow motion.
Cursos Superiores de Especialização.
Criada a possibilidade de criação dos ditos, por ação legislativa. Recebido com apupos.
Ação 1 - Hibernação 4
Regras para a definição de vagas.
Demoram a descongelar, impedindo qualquer ação que não seja reativa.
Ação 1 - Hibernação 5
Evolução da procura de cursos superiores.
Em análise apenas na segunda parte do ano.
Internacionalização e o Estatuto do Estudante Internacional.
Criado o Estatuto. Ações preparatórias em curso. Resultado a acompanhar.
Ação 2 - Hibernação 5
As pessoas. As que fazem a sociedade e que devem afirmar o que querem para o País.
Dever, devem. Ouvem-se algumas vozes. Nada suficientemente mobilizador.
Ação 2 - Hibernação 6
O degelo ainda não chegou.
domingo, 6 de abril de 2014
Preparação para a batalha
Sobre a importância da preparação, do estudo, do cálculo, da competição, em versão de conselho militar. Evidências fáceis de esquecer no dia a dia, e que, ao sê-lo, apontam o caminho da derrota.
"O general que vence uma batalha faz muitos cálculos no seu templo antes da batalha ser travada. O general que perde uma batalha faz poucos cálculos antecipadamente. Assim, muito cálculos conduzem à vitória e poucos à derrota; e o que acontecerá se não se fizerem cálculos nenhuns! É tendo atenção a este ponto que eu consigo prever quem tem possibilidades de vencer ou de ser derrotado".
Sun Tzu, A arte da guerra
"O general que vence uma batalha faz muitos cálculos no seu templo antes da batalha ser travada. O general que perde uma batalha faz poucos cálculos antecipadamente. Assim, muito cálculos conduzem à vitória e poucos à derrota; e o que acontecerá se não se fizerem cálculos nenhuns! É tendo atenção a este ponto que eu consigo prever quem tem possibilidades de vencer ou de ser derrotado".
Sun Tzu, A arte da guerra
domingo, 30 de março de 2014
A supremacia do dinheiro
O Estatuto do Estudante Internacional, com efeitos no próximo ano letivo vem, inevitavelmente, recolocar na agenda a discussão sobre o acesso ao ensino superior e sobre o montante das propinas. Este Estatuto permite, à semelhança do que sucede noutros países, cobrar propinas mais elevadas a estudantes provenientes de determinadas origens geográficas, no caso, a estudantes que não são da União Europeia; e que ingressarão mediante um concurso específico gerido por cada instituição não competindo, portanto, com os estudantes nacionais.
Financiamento, acesso, propinas, equidade. São temas relevantes, em particular para os sistemas públicos de ensino superior.
E a discussão começou já, de forma rápida. No Expresso de ontem o Diretor da Nova SBE, Faculdade da Universidade Nova de Lisboa, propõe uma propina mais elevada também para os alunos nacionais, embora mantendo a repartição do esforço entre Estado e Estudantes; numa propina de 4000€, por exemplo, os estudantes continuariam a pagar diretamente cerca de 1000€, contribuindo o Estado com uma bolsa de 3000€. Mas, adicionalmente, defende que "as escolas públicas devem poder admitir alunos acima do numerus clausus desde que suportem por inteiro aquela propina, alargando a alunos nacionais o regime que, a partir de março, vigora para alunos internacionais.".
Estas propostas, apresentadas como uma sequência quase lógica - se algo é aplicável a estudantes interacionais porque não a estudantes nacionais - preconizam a supremacia do dinheiro e discriminam, entre portugueses, no acesso ao Ensino Superior Público português: uns entrarão por mérito, aferido por um concurso nacional; e outros entrarão simplesmente porque podem pagar.
Todos os temas podem, e devem, ser discutidos. Mas há princípios que não devem ser postos em causa. E há ideias que devem ser refutadas liminarmente. Esta é uma delas.
Financiamento, acesso, propinas, equidade. São temas relevantes, em particular para os sistemas públicos de ensino superior.
E a discussão começou já, de forma rápida. No Expresso de ontem o Diretor da Nova SBE, Faculdade da Universidade Nova de Lisboa, propõe uma propina mais elevada também para os alunos nacionais, embora mantendo a repartição do esforço entre Estado e Estudantes; numa propina de 4000€, por exemplo, os estudantes continuariam a pagar diretamente cerca de 1000€, contribuindo o Estado com uma bolsa de 3000€. Mas, adicionalmente, defende que "as escolas públicas devem poder admitir alunos acima do numerus clausus desde que suportem por inteiro aquela propina, alargando a alunos nacionais o regime que, a partir de março, vigora para alunos internacionais.".
Estas propostas, apresentadas como uma sequência quase lógica - se algo é aplicável a estudantes interacionais porque não a estudantes nacionais - preconizam a supremacia do dinheiro e discriminam, entre portugueses, no acesso ao Ensino Superior Público português: uns entrarão por mérito, aferido por um concurso nacional; e outros entrarão simplesmente porque podem pagar.
Todos os temas podem, e devem, ser discutidos. Mas há princípios que não devem ser postos em causa. E há ideias que devem ser refutadas liminarmente. Esta é uma delas.
sábado, 29 de março de 2014
A ponta da cauda
Notas no Click de hoje; passou na Antena 1.
A educação em Portugal mudou muito, e para melhor, nos últimos 40 anos: muito mais pessoas acedem à educação, por mais tempo, com maior igualdade entre sexos. De quase 1,8 milhões de analfabetos passámos para 500.000.
Mas continuamos mal em muitos dos indicadores. Sobretudo, porque a formação é um exercício de longo prazo, em que a má posição de partida, as perdas e as hesitações, têm um efeito cumulativo e levam muito tempo a recuperar; não só no percurso de cada um, como em termos da utilização do conhecimento na economia e na inovação, neste mundo em que a posição em relação aos outros, importa.
Recuperação que é hoje mais complicada, pela conjugação de três fatores: baixa natalidade, que significa menos estudantes, menos trabalhadores, menos capacidade de renovação; elevada taxa de abandono escolar, só superada pela da Espanha, o que limita as perspectivas de futuro; desemprego elevadíssimo, que desperdiça o potencial existente em tantas pessoas.
É um problema de quantidade, neste país pequeno e a encolher, e de qualidade, com pessoas, em média, menos qualificadas do que as dos nossos parceiros e concorrentes.
Veja-se a população entre os 25 e 64 anos que completou o ensino secundário. Portugal apresenta, em 2013, o pior resultado da União, não chegando sequer a 40%; bem longe da média que vai em 75%; mais distante ainda dos países da antiga Europa de leste.
Um outro exemplo, menos influenciado pelo peso do atraso histórico: a geração da integração europeia, nascida no início dos anos 90. Apenas 69% dos jovens com 20 a 24 anos têm o ensino secundário, face, por exemplo, a 87% na Grécia ou a 89% na Irlanda, nossos parceiros da crise.
Enfrentar esta questão, estrutural, requer a valorização da aprendizagem, o reforço do ensino em todos os níveis e, principalmente, uma nova formação ao longo da vida, única via para inverter, de forma significativa esta realidade. E requer uma mudança no tecido económico, nas organizações e nas lideranças da sociedade, de forma a gerar, não só, mais emprego, como um emprego diferente.
Não se trata, por isso, de entrar, rapidamente, num qualquer pelotão da frente. Nem sequer de atingir a média, ao virar da esquina. Trata-se de uma luta de longo prazo para sair da cauda, ou mais precisamente, para sair da ponta da cauda.
A educação em Portugal mudou muito, e para melhor, nos últimos 40 anos: muito mais pessoas acedem à educação, por mais tempo, com maior igualdade entre sexos. De quase 1,8 milhões de analfabetos passámos para 500.000.
Mas continuamos mal em muitos dos indicadores. Sobretudo, porque a formação é um exercício de longo prazo, em que a má posição de partida, as perdas e as hesitações, têm um efeito cumulativo e levam muito tempo a recuperar; não só no percurso de cada um, como em termos da utilização do conhecimento na economia e na inovação, neste mundo em que a posição em relação aos outros, importa.
Recuperação que é hoje mais complicada, pela conjugação de três fatores: baixa natalidade, que significa menos estudantes, menos trabalhadores, menos capacidade de renovação; elevada taxa de abandono escolar, só superada pela da Espanha, o que limita as perspectivas de futuro; desemprego elevadíssimo, que desperdiça o potencial existente em tantas pessoas.
É um problema de quantidade, neste país pequeno e a encolher, e de qualidade, com pessoas, em média, menos qualificadas do que as dos nossos parceiros e concorrentes.
Veja-se a população entre os 25 e 64 anos que completou o ensino secundário. Portugal apresenta, em 2013, o pior resultado da União, não chegando sequer a 40%; bem longe da média que vai em 75%; mais distante ainda dos países da antiga Europa de leste.
Um outro exemplo, menos influenciado pelo peso do atraso histórico: a geração da integração europeia, nascida no início dos anos 90. Apenas 69% dos jovens com 20 a 24 anos têm o ensino secundário, face, por exemplo, a 87% na Grécia ou a 89% na Irlanda, nossos parceiros da crise.
Enfrentar esta questão, estrutural, requer a valorização da aprendizagem, o reforço do ensino em todos os níveis e, principalmente, uma nova formação ao longo da vida, única via para inverter, de forma significativa esta realidade. E requer uma mudança no tecido económico, nas organizações e nas lideranças da sociedade, de forma a gerar, não só, mais emprego, como um emprego diferente.
Não se trata, por isso, de entrar, rapidamente, num qualquer pelotão da frente. Nem sequer de atingir a média, ao virar da esquina. Trata-se de uma luta de longo prazo para sair da cauda, ou mais precisamente, para sair da ponta da cauda.
sábado, 15 de março de 2014
Mundo inteligente
O mundo parece ter-se tornado mais inteligente. Basta ouvir descrições científicas, técnicas ou de marketing; ler políticas europeias e programas de financiamento; ouvir discursos nacionais, regionais ou locais. Estamos rodeados de telemóveis e televisões inteligentes; de têxteis e dispositivos de iluminação; de cozinhas e de equipamentos médicos; de automóveis e estradas que decidem; querem-se regiões, cidades e edifícios inteligentes.Transforma-se inteligência num adjetivo para coisas. Rareiam as referências à "outra" inteligência, tornada anacrónica ou menos importante, menos necessária, dispensável, substituível. E as pessoas?
"E quem prepara essas fitas de Educação? Serão especialistas educados para esse fim por meio de outras fitas mais avançadas? E então quem fará as fitas para esses especialistas...? E assim sucessivamente ...por mais avançadas que sejam as fitas de Educação, terão de haver em qualquer sítio homens e mulheres com capacidade de ter pensamentos originais, de inventar e de preparar as fitas com as novas técnicas...", em Profissão, de Issac Asimov.
"E quem prepara essas fitas de Educação? Serão especialistas educados para esse fim por meio de outras fitas mais avançadas? E então quem fará as fitas para esses especialistas...? E assim sucessivamente ...por mais avançadas que sejam as fitas de Educação, terão de haver em qualquer sítio homens e mulheres com capacidade de ter pensamentos originais, de inventar e de preparar as fitas com as novas técnicas...", em Profissão, de Issac Asimov.
quarta-feira, 12 de março de 2014
A insustentável leveza
A dívida é sustentável, dizem uns. A dívida é insustentável, dizem outros. Atos de fé, de auto-convencimento, de vontade, de desejo, de saber, de ignorância, ou uma mistura de tudo isto. Se acreditarmos que as palavras têm valor, e que os seus significados são importantes, tudo se torna mais perturbador, porventura mais claro. A começar pelo significado de sustentabilidade.
In Priberam: sustentável, adjetivo de 2 géneros, que tem condições para se manter ou conservar.
A dívida é sustentável.
A dívida tem condições para se manter ou conservar.
Eu não quero que a dívida se conserve.
Será que "eles" se ouvem?
Será que conhecem as palavras?
Será que estão anestesiados ou que querem anestesiar?
Podemos sempre reler Orwell e o uso da linguagem.
A dívida é pagável?
In Priberam: pagável, adjetivo de 2 géneros, que pode ou deve ser pago.
A dívida deve ser paga? Deve.
A dívida pode ser paga? Nos moldes atuais não me parece.
Como dizia o outro "é fazer as contas". E tornou-se um episódio.
Mas é preciso fazer as contas. E mostrá-las.
Não apenas até maio, mês símbólico para outra fé, em relógios avariados.
Contas até ao saldar da dívida.
Em anos, em anos-luz ou em anos-sombra.
In Priberam: sustentável, adjetivo de 2 géneros, que tem condições para se manter ou conservar.
A dívida é sustentável.
A dívida tem condições para se manter ou conservar.
Eu não quero que a dívida se conserve.
Será que "eles" se ouvem?
Será que conhecem as palavras?
Será que estão anestesiados ou que querem anestesiar?
Podemos sempre reler Orwell e o uso da linguagem.
A dívida é pagável?
In Priberam: pagável, adjetivo de 2 géneros, que pode ou deve ser pago.
A dívida deve ser paga? Deve.
A dívida pode ser paga? Nos moldes atuais não me parece.
Como dizia o outro "é fazer as contas". E tornou-se um episódio.
Mas é preciso fazer as contas. E mostrá-las.
Não apenas até maio, mês símbólico para outra fé, em relógios avariados.
Contas até ao saldar da dívida.
Em anos, em anos-luz ou em anos-sombra.
sábado, 1 de março de 2014
O indicador composto (2)
Sobre usos e desusos de indicadores, em complemento da entrada "O indicador composto"
(http://notasdasuperficie.blogspot.pt/2014/01/o-indicador-composto.html).
"The use of scoreboards or benchmarking rank tables may be dangerous because the numbers are taken at face value with little discussion of their validity (Pavitt, 1988). Considerable room exists for manipulation by selection, weighting and aggregating indicators."
"Another possible fruitful area for research would be on how S&T indicators are used (and misused) in national policymaking system. If the main use of S&T indicators is to salve the pride of a country's politicians and citizenry, then the costs of possible inaccuracies or other shortcomings are low. If, however, a strong and direct link is found to exist between such indicators and public policy then concerns about the possible negative impacts of their shortcomings become much greater."
Muito apropriado quando Governo e partidos da maioria brandem este tipo de indicadores para justificar mudanças na política científica.
Excertos de "Indicators for national science and technology policy: how robust are composite indicators?", 2004, de H.Grupp e M.E. Mogee, Research Policy, n.º 33, pp 1373-1384, Elsevier. Os autores pertencem, respetivamente, ao Instituto para Investigação em Política Económica da Universidade de Karlsruhe e ao Instituto Fraunhofer.
(http://notasdasuperficie.blogspot.pt/2014/01/o-indicador-composto.html).
"The use of scoreboards or benchmarking rank tables may be dangerous because the numbers are taken at face value with little discussion of their validity (Pavitt, 1988). Considerable room exists for manipulation by selection, weighting and aggregating indicators."
"Another possible fruitful area for research would be on how S&T indicators are used (and misused) in national policymaking system. If the main use of S&T indicators is to salve the pride of a country's politicians and citizenry, then the costs of possible inaccuracies or other shortcomings are low. If, however, a strong and direct link is found to exist between such indicators and public policy then concerns about the possible negative impacts of their shortcomings become much greater."
Muito apropriado quando Governo e partidos da maioria brandem este tipo de indicadores para justificar mudanças na política científica.
Excertos de "Indicators for national science and technology policy: how robust are composite indicators?", 2004, de H.Grupp e M.E. Mogee, Research Policy, n.º 33, pp 1373-1384, Elsevier. Os autores pertencem, respetivamente, ao Instituto para Investigação em Política Económica da Universidade de Karlsruhe e ao Instituto Fraunhofer.
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
Grupos, Classes, Culturas, Valores
Voltando a Frederick Balderston, que esteve nas Notas em 2011, então a propósito das estruturas administrativas das universidades (http://notasdasuperficie.blogspot.pt/2011/03/bem-me-quer-mal-me-quer.html), e que agora trago com uma visão sobre os diferentes mundos internos que coexistem e que, frequentemente, se entrechocam.
"The university faces another personnel problem. Faculty and research personnel share a value system and the attitudes about academic status that such a value system induces. Administrative staff members, including those at professional and senior levels, cannot share directly in this status system and are, worse yet, sometimes the victims of academic snobbery and academic contempt for bureaucracy. Most universities need to increase understanding between the two worlds if they are to avoid the retreat into bureaucratic rigidity that is an all too natural defensive reaction of administrators."
F. Balderston (1995) "Managing Today's University".
"The university faces another personnel problem. Faculty and research personnel share a value system and the attitudes about academic status that such a value system induces. Administrative staff members, including those at professional and senior levels, cannot share directly in this status system and are, worse yet, sometimes the victims of academic snobbery and academic contempt for bureaucracy. Most universities need to increase understanding between the two worlds if they are to avoid the retreat into bureaucratic rigidity that is an all too natural defensive reaction of administrators."
F. Balderston (1995) "Managing Today's University".
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
Os Centaurianos
Hoje noticiam-se mais bolsas porque há mais dinheiro; ou porque o dinheiro apareceu depois de muita polémica, tomadas de posição, idas ao Parlamento e uma chamada a Belém; mais bolsas individuais onde ainda há pouco não havia muitas bolsas, não porque faltasse o dinheiro, asseguraram-nos, mas porque a política era outra, porque a política devia ser outra .
E foi então que me lembrei dos Centaurianos, que descobri na secção de perguntas de lógica da revista Jeux & Stratégie, na década de 80 do século passado. Descobri-os tal como o astronauta terráqueo, em missão espacial, que era figura central da história. Os Centurianos são criaturas simpáticas, aparentemente iguais à vista, mas repartidas por quatro géneros de particularidades bem distintas: os Verídicos, que dizem sempre a verdade; os Mentirosos, que mentem sempre; os Inconstantes, que tanto mentem como dizem a verdade; e os Loucos, que podem proferir frases verdadeiras, falsas ou contraditórias. O problema de cada enigma é que o astronauta não os distingue, de facto, e nunca sabe, à partida, a que género pertencem os seus interlocutores. Até que eles começam a falar...
À vous de jouer!
E foi então que me lembrei dos Centaurianos, que descobri na secção de perguntas de lógica da revista Jeux & Stratégie, na década de 80 do século passado. Descobri-os tal como o astronauta terráqueo, em missão espacial, que era figura central da história. Os Centurianos são criaturas simpáticas, aparentemente iguais à vista, mas repartidas por quatro géneros de particularidades bem distintas: os Verídicos, que dizem sempre a verdade; os Mentirosos, que mentem sempre; os Inconstantes, que tanto mentem como dizem a verdade; e os Loucos, que podem proferir frases verdadeiras, falsas ou contraditórias. O problema de cada enigma é que o astronauta não os distingue, de facto, e nunca sabe, à partida, a que género pertencem os seus interlocutores. Até que eles começam a falar...
À vous de jouer!
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
Despesa em I&D - T1. Ep. 3 - O Regresso ao mar
Depois da tempestade em terra, protagonizada pela parte do Governo que tutela a ciência, e depois da mão dada, em termos orçamentais, pela parte do Governo dedicada à Economia, surge agora a visão vinda do mar, via Presidência do Conselho de Ministros.
A agenda dos programas de I&D deve pressupor o investimento em recursos humanos qualificados e em infraestruturas de ciência e tecnologia ligadas aos mares e oceanos, bem como a otimização dos recursos existentes, o fomento e reforço da cooperação, a partilha de meios entre instituições nacionais e a participação ativa e devidamente enquadrada nas redes internacionais. A I&D deve ser financiada de forma estável e com consistência programática, orientada para as necessidades funcionais e de conhecimento que decorrem da implementação da ENM 2013 -2020.
Investimento em recursos humanos qualificados, dizem.
Financiamento estável e com consistência programática, escrevem.
Mais do que a apregoada cooperação interministerial parece ser um caso de cacofonia governamental.
A que se pode também juntar o recente anúncio, pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, da integração do Instituto de Investigação Científica e Tropical na Universidade de Lisboa. Instituto cuja tutela fora exercida, em anterior Governo, pelo então Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior em articulação com os Negócios Estrangeiros; que na configuração inicial do atual Governo (julho de 2011) foi integrado na Presidência do Conselho de Ministros; que transitou para os Negócios Estrangeiros (maio de 2013) e que agora, parece, regressará à esfera da Educação e Ciência, não sob a alçada do Ministério mas integrado numa Universidade. Na Universidade de Lisboa que no processo de fusão que lhe deu origem tinha já recebido o Estádio Universitário de Lisboa.
A agenda dos programas de I&D deve pressupor o investimento em recursos humanos qualificados e em infraestruturas de ciência e tecnologia ligadas aos mares e oceanos, bem como a otimização dos recursos existentes, o fomento e reforço da cooperação, a partilha de meios entre instituições nacionais e a participação ativa e devidamente enquadrada nas redes internacionais. A I&D deve ser financiada de forma estável e com consistência programática, orientada para as necessidades funcionais e de conhecimento que decorrem da implementação da ENM 2013 -2020.
em "Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020", aprovada pelo Governo.
Investimento em recursos humanos qualificados, dizem.
Financiamento estável e com consistência programática, escrevem.
Mais do que a apregoada cooperação interministerial parece ser um caso de cacofonia governamental.
A que se pode também juntar o recente anúncio, pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, da integração do Instituto de Investigação Científica e Tropical na Universidade de Lisboa. Instituto cuja tutela fora exercida, em anterior Governo, pelo então Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior em articulação com os Negócios Estrangeiros; que na configuração inicial do atual Governo (julho de 2011) foi integrado na Presidência do Conselho de Ministros; que transitou para os Negócios Estrangeiros (maio de 2013) e que agora, parece, regressará à esfera da Educação e Ciência, não sob a alçada do Ministério mas integrado numa Universidade. Na Universidade de Lisboa que no processo de fusão que lhe deu origem tinha já recebido o Estádio Universitário de Lisboa.
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
Cenários de um futuro presente
Eis uma visão das universidades que soa cada vez mais familiar:
As part of the active industrial policy, universities are delivering courses dictated by initiatives set out by regional assemblies that vice-chancellors sit on. They are also funded by government to play a wider role in their community. With limited government resources, however, local post-secondary institutions have merged so that there is one per locality to deliver the required skills and activities. The shape of the university sector is controlled by the local assemblies with one of each ‘type’ of university allowed in each region. Courses and student numbers are determined by the government’s industrial policy, taking into consideration the long term needs of sectors and public services in that locality. This leads to a focus on delivering students trained for planned jobs. Much of this training is done in collaboration with their potential future employer. Similarly, the research agenda is focused on economic and social issues requiring a technological solution. Universities are at the heart of their local communities. They provide residents with leisure services, evening classes, library access and technology use, which for many has become unaffordable.
Esta não é uma tradução de qualquer documento divulgado pelo governo português, nem de um programa partidário, nem de um texto de opinadores. Também não é uma referência, como caso de estudo, ao ensino superior nacional.
É apenas um cenário. Um cenário sobre o futuro das universidades. Um de quatro, considerados credíveis, ainda que convenientemente extremados para suscitar a reflexão, e consta de uma publicação da University Alliance, organização que reúne 22 universidades do Reino-Unido.
A designação do cenário: Uni_public.
As part of the active industrial policy, universities are delivering courses dictated by initiatives set out by regional assemblies that vice-chancellors sit on. They are also funded by government to play a wider role in their community. With limited government resources, however, local post-secondary institutions have merged so that there is one per locality to deliver the required skills and activities. The shape of the university sector is controlled by the local assemblies with one of each ‘type’ of university allowed in each region. Courses and student numbers are determined by the government’s industrial policy, taking into consideration the long term needs of sectors and public services in that locality. This leads to a focus on delivering students trained for planned jobs. Much of this training is done in collaboration with their potential future employer. Similarly, the research agenda is focused on economic and social issues requiring a technological solution. Universities are at the heart of their local communities. They provide residents with leisure services, evening classes, library access and technology use, which for many has become unaffordable.
Esta não é uma tradução de qualquer documento divulgado pelo governo português, nem de um programa partidário, nem de um texto de opinadores. Também não é uma referência, como caso de estudo, ao ensino superior nacional.
É apenas um cenário. Um cenário sobre o futuro das universidades. Um de quatro, considerados credíveis, ainda que convenientemente extremados para suscitar a reflexão, e consta de uma publicação da University Alliance, organização que reúne 22 universidades do Reino-Unido.
A designação do cenário: Uni_public.
O quadrante em que se situa: Collaborative Society; Contracting Economy.
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Emprego absoluto
De vez em quando é útil regressar aos números absolutos. Número de pessoas, por exemplo, em vez de taxas, índices simples ou compostos, rankings ou outras figuras. Devidamente contextualizadas estas figuras estatísticas são extremamente úteis. Devidamente descontextualizadas prestam-se a todas as tentativas de manipulação ou, no mínimo, de tentativa de criação de "dúvida razoável".
Um outro olhar sobre as estatísticas do INE referentes ao 4.º trimestre de 2013, à atenção dos crentes no sucesso e dos crentes no desastre, que partilham a crença de que os outros é que estão entrincheirados.
População empregada, que é mais fácil de identificar e de contar do que a desempregada:
1) Em outubro-dezembro há mais 7900 pessoas empregadas do que havia em julho-setembro. É uma evolução positiva.
2) Em outubro-dezembro de 2013 há mais 29700 pessoas empregadas do que havia em outubro-dezembro de 2012. É uma evolução positiva, mas que não autoriza conclusões apressadas, uma vez que estamos a "saltar" de um ponto de um ano para outro, sem descrever o que aconteceu entre ambos.
Para comparar 2012 e 2013 o INE recorre à média da população empregada em cada um dos quatro trimestres. Já não estamos a fazer uma contagem simples, mas ainda assim esta média não se presta a múltiplas interpretações.
3) No ano de 2013 a população empregada diminuiu 121200 pessoas em relação a 2012. A elevada diminuição de emprego no início do ano de 2013 supera o aumento registado nos restantes meses. Uma evolução negativa com a dimensão, aproximada, de toda a população do concelho de Setúbal.
Um outro indicador a ter em conta: a evolução da população ativa, sendo esta a que tem 15 anos ou mais (conceito que eventualmente deveria ser revisto, pelo alargamento da escolaridade obrigatória).
4) A população ativa diminuiu 105400 pessoas, de 2012 para 2013. Um fonte de preocupação.
Estes são números claros. São números que retratam apenas uma pequena parte deste problema. Nada dizem sobre a qualidade do emprego, sobre as áreas, a idade ou a geografia. Para isso há outros dados, muitos outros.
O que nenhum deles mostra, porque são dados de conjunto, é que as políticas e as decisões coletivas e individuais não são neutras para as pessoas, para cada pessoa. Não mostra que alguns dos empregados de 2013 não o estavam em 2012. E que alguns dos desempregados de agora perderam o emprego durante este ano. Em caso algum estes dados permitem, só por si, prever o futuro. Porque as tendências que podem revelar não se autosustentam.
Um outro olhar sobre as estatísticas do INE referentes ao 4.º trimestre de 2013, à atenção dos crentes no sucesso e dos crentes no desastre, que partilham a crença de que os outros é que estão entrincheirados.
População empregada, que é mais fácil de identificar e de contar do que a desempregada:
1) Em outubro-dezembro há mais 7900 pessoas empregadas do que havia em julho-setembro. É uma evolução positiva.
2) Em outubro-dezembro de 2013 há mais 29700 pessoas empregadas do que havia em outubro-dezembro de 2012. É uma evolução positiva, mas que não autoriza conclusões apressadas, uma vez que estamos a "saltar" de um ponto de um ano para outro, sem descrever o que aconteceu entre ambos.
Para comparar 2012 e 2013 o INE recorre à média da população empregada em cada um dos quatro trimestres. Já não estamos a fazer uma contagem simples, mas ainda assim esta média não se presta a múltiplas interpretações.
3) No ano de 2013 a população empregada diminuiu 121200 pessoas em relação a 2012. A elevada diminuição de emprego no início do ano de 2013 supera o aumento registado nos restantes meses. Uma evolução negativa com a dimensão, aproximada, de toda a população do concelho de Setúbal.
Um outro indicador a ter em conta: a evolução da população ativa, sendo esta a que tem 15 anos ou mais (conceito que eventualmente deveria ser revisto, pelo alargamento da escolaridade obrigatória).
4) A população ativa diminuiu 105400 pessoas, de 2012 para 2013. Um fonte de preocupação.
Estes são números claros. São números que retratam apenas uma pequena parte deste problema. Nada dizem sobre a qualidade do emprego, sobre as áreas, a idade ou a geografia. Para isso há outros dados, muitos outros.
O que nenhum deles mostra, porque são dados de conjunto, é que as políticas e as decisões coletivas e individuais não são neutras para as pessoas, para cada pessoa. Não mostra que alguns dos empregados de 2013 não o estavam em 2012. E que alguns dos desempregados de agora perderam o emprego durante este ano. Em caso algum estes dados permitem, só por si, prever o futuro. Porque as tendências que podem revelar não se autosustentam.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
Eu patenteio, tu patenteias, ..., nós patenteamos (pouco), eles patenteiam (muito)
Notas para o Click, Antena 1, de sábado, 8 de fevereiro de 2014 (versão áudio)
O Governo, deputados da maioria e alguns comentadores descobriram um novíssimo indicador, incluído num relatório da Comissão Europeia de 2013, que mede, dizem, a excelência da investigação. Descobriram que Portugal está apenas em 18.º lugar, uma prova provada de que para fazer chegar a ciência à economia é preciso mudar a política pública para a ciência. O número e esta conclusão são repetidos, entram na esfera mediática e ganham eco. Perfeito alibi político. Mas suspeito que não sabem do que estão a falar!
O indicador em causa resulta de quatro outros, relacionados com a citação de publicações científicas, a presença de universidades em rankings, as patentes submetidas e o valor obtido em bolsas do European Research Council. Um caldo que, só por si, merecia reflexão e uma análise separada de cada factor, princípio básico para quem vem da ciência e para quem quer usar o conhecimento para melhor decidir.
Vejamos o número de patentes por milhão de habitantes. Pouca gente saberá que o incontestado líder europeu é … o Liechtenstein! Para além da Suiça, seguem-se a Suécia, a Alemanha, a Dinamarca e a Finlândia. No top 50 das instituições não está qualquer universidade. Estão empresas que incorporaram a investigação na sua estratégia: a Ericsson é responsável por quase um terço das patentes submetidas pela Suécia; a Finlândia tem a Nokia; a Alemanha a Bosch e a Siemens, número 2 neste ranking. Siemens que tem mais de 13.000 pessoas a fazer investigação e desenvolvimento, só na Alemanha, e que investe anualmente 6% das suas receitas, mais de 4 biliões de euros.
Em Portugal, desde 2009, faz-se cada vez menos despesa em investigação, nas empresas, no ensino superior e no Estado. São estatísticas do próprio Ministério da Educação e Ciência. A quebra foi maior no setor empresarial, onde a despesa em investigação é agora de apenas 0,7% do PIB. Muito longe dos mais de 2% da Suécia e da Finlândia.
O problema da inovação não é a transferência de conhecimento, ou de recursos, para as empresas; nem lá vai com benefícios fiscais; é estrutural e refere-se à baixa intensidade tecnológica da nossa economia. O dilema político consistirá em decidir se, neste quadro e no curto prazo, as universidades devem, ou não, ser o principal motor da investigação e desenvolvimento em Portugal. De resto, muita da argumentação usada no debate político sobre ciência não passa de uma cortina de fumo que não resiste ao vento de uma discussão séria.
O Governo, deputados da maioria e alguns comentadores descobriram um novíssimo indicador, incluído num relatório da Comissão Europeia de 2013, que mede, dizem, a excelência da investigação. Descobriram que Portugal está apenas em 18.º lugar, uma prova provada de que para fazer chegar a ciência à economia é preciso mudar a política pública para a ciência. O número e esta conclusão são repetidos, entram na esfera mediática e ganham eco. Perfeito alibi político. Mas suspeito que não sabem do que estão a falar!
O indicador em causa resulta de quatro outros, relacionados com a citação de publicações científicas, a presença de universidades em rankings, as patentes submetidas e o valor obtido em bolsas do European Research Council. Um caldo que, só por si, merecia reflexão e uma análise separada de cada factor, princípio básico para quem vem da ciência e para quem quer usar o conhecimento para melhor decidir.
Vejamos o número de patentes por milhão de habitantes. Pouca gente saberá que o incontestado líder europeu é … o Liechtenstein! Para além da Suiça, seguem-se a Suécia, a Alemanha, a Dinamarca e a Finlândia. No top 50 das instituições não está qualquer universidade. Estão empresas que incorporaram a investigação na sua estratégia: a Ericsson é responsável por quase um terço das patentes submetidas pela Suécia; a Finlândia tem a Nokia; a Alemanha a Bosch e a Siemens, número 2 neste ranking. Siemens que tem mais de 13.000 pessoas a fazer investigação e desenvolvimento, só na Alemanha, e que investe anualmente 6% das suas receitas, mais de 4 biliões de euros.
Em Portugal, desde 2009, faz-se cada vez menos despesa em investigação, nas empresas, no ensino superior e no Estado. São estatísticas do próprio Ministério da Educação e Ciência. A quebra foi maior no setor empresarial, onde a despesa em investigação é agora de apenas 0,7% do PIB. Muito longe dos mais de 2% da Suécia e da Finlândia.
O problema da inovação não é a transferência de conhecimento, ou de recursos, para as empresas; nem lá vai com benefícios fiscais; é estrutural e refere-se à baixa intensidade tecnológica da nossa economia. O dilema político consistirá em decidir se, neste quadro e no curto prazo, as universidades devem, ou não, ser o principal motor da investigação e desenvolvimento em Portugal. De resto, muita da argumentação usada no debate político sobre ciência não passa de uma cortina de fumo que não resiste ao vento de uma discussão séria.
domingo, 9 de fevereiro de 2014
Existência líquida
Chove. O mundo liquefaz-se. O ar é agora cinzento de água. As janelas deformam o olhar. As pedras escorrem, imóveis, pela rua abaixo. A estrada por onde passo é feita apenas de reflexos e de sombras. Ainda se sente terra. Ainda se pressente céu. Chuva. Gotas empurradas pelo vento. Gotas que tocam a pele, ficando connosco um momento. Gotas que tombam formando poças, correndo juntas, sem saber destino, em riachos que já foram nuvens, sopradas em direção a um mar qualquer. Gotas separadas, que ficam à margem, vendo as outras a passar. Gotas diferentes, em contra-corrente, buscando o impossível. Chove mais. Mais ainda. Os contornos esbatem-se. Tudo se torna indistinto. Tudo se confunde. As gotas caem agora do chão, feito nuvem, para a nuvem, feita chão. Também eu caio para uma nuvem. Acordo. Sou uma gota.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Caltech tem a palavra
Caltech, o Instituto de Tecnologia de Califórnia, é o líder das três últimas edições do ranking do Times Higher Education (THE), sendo já segundo quatro anos atrás.
Caltech é Caltech, uma instituição singular, pequena em número de estudantes e de investigadores, grande em orçamento e com uma cultura própria. Uma realidade bem diferente da média do ensino superior norte-americano, do europeu e, ainda mais, do português. O THE dedicou-lhe um artigo que vale a pena ler, e dar a ler, sem preconceitos, sem ilusões, sem mimetismos; ler com espírito aberto e questionar o que se faz e o que se diz, o que fazemos e o que dizemos, o que fazem e nos dizem. Questionar e recusar abertamente o que não faz sentido são características do espírito crítico, de uma atitude de investigação e de um ensino que se quer de nível superior.
Entre nós, quando se quer melhorar um pouco, quando não se tem a mínima ideia do que se quer fazer, quando se julga que se está a motivar outros ou a fazer política apregoa-se a excelência, de variadas formas, mais ou menos ocas e ilusórias: vamos integrar o pelotão da frente (mesmo depois de décadas entre os últimos), superar a média europeia, promover ou densificar a excelência (rarefeita até então), passar da quantidade (que em muitos indicadores nem sequer é satisfatória) à qualidade, entrar num novo ciclo, mudar de paradigma.
O melhor é mesmo passar a palavra a quem é, reconhecidamente, excelente. Fiquem então com uns extratos do artigo (que pode ser lido em http://www.timeshighereducation.co.uk/features/caltech-secrets-of-the-worlds-number-one-university/2011008.article).
Dimensão
"It is clear that Caltech is a special place, but how has it achieved this success? Rosakis’ first answer focuses on its size. “I always refer to this small size as being very similar to the size effect that exists in materials – there are special properties that exist when you are extremely small,” he explains in his airy office, the winter sun streaming through a bank of windows on to a chalkboard filled with mathematical formulae."
Propósito
“It is more important to do something that’s new than just to crank out the papers. It is not about the numbers or the citation index, it’s about looking beyond that and looking at what is new and truly different. Maybe that comes from a certain amount of self-confidence that the institution has. I think many places are very conscious of being judged by the outside, but Caltech doesn’t have that.”
Investigação fundamental
“There’s an unfortunate trend in the funding of science and engineering that focuses on ‘what are we going to get out of this in terms of application’ as opposed to ‘let’s enable the broad-based fundamental activity that has been demonstrated historically to lead to the kind of technological breakthroughs that become the dominant technologies in the world’.”
Contratação
Rosakis is much more blunt: “I cannot make mistakes when I hire. I really cannot. We have 16 faculty members in Information Science and Technology – Carnegie Mellon [University in Pittsburgh, a highly ranked research institution] has 200. If I make one hire or two hires that are wrong, I have a huge setback.
(...)
Caltech é Caltech, uma instituição singular, pequena em número de estudantes e de investigadores, grande em orçamento e com uma cultura própria. Uma realidade bem diferente da média do ensino superior norte-americano, do europeu e, ainda mais, do português. O THE dedicou-lhe um artigo que vale a pena ler, e dar a ler, sem preconceitos, sem ilusões, sem mimetismos; ler com espírito aberto e questionar o que se faz e o que se diz, o que fazemos e o que dizemos, o que fazem e nos dizem. Questionar e recusar abertamente o que não faz sentido são características do espírito crítico, de uma atitude de investigação e de um ensino que se quer de nível superior.
Entre nós, quando se quer melhorar um pouco, quando não se tem a mínima ideia do que se quer fazer, quando se julga que se está a motivar outros ou a fazer política apregoa-se a excelência, de variadas formas, mais ou menos ocas e ilusórias: vamos integrar o pelotão da frente (mesmo depois de décadas entre os últimos), superar a média europeia, promover ou densificar a excelência (rarefeita até então), passar da quantidade (que em muitos indicadores nem sequer é satisfatória) à qualidade, entrar num novo ciclo, mudar de paradigma.
O melhor é mesmo passar a palavra a quem é, reconhecidamente, excelente. Fiquem então com uns extratos do artigo (que pode ser lido em http://www.timeshighereducation.co.uk/features/caltech-secrets-of-the-worlds-number-one-university/2011008.article).
Dimensão
"It is clear that Caltech is a special place, but how has it achieved this success? Rosakis’ first answer focuses on its size. “I always refer to this small size as being very similar to the size effect that exists in materials – there are special properties that exist when you are extremely small,” he explains in his airy office, the winter sun streaming through a bank of windows on to a chalkboard filled with mathematical formulae."
Propósito
“It is more important to do something that’s new than just to crank out the papers. It is not about the numbers or the citation index, it’s about looking beyond that and looking at what is new and truly different. Maybe that comes from a certain amount of self-confidence that the institution has. I think many places are very conscious of being judged by the outside, but Caltech doesn’t have that.”
Investigação fundamental
“There’s an unfortunate trend in the funding of science and engineering that focuses on ‘what are we going to get out of this in terms of application’ as opposed to ‘let’s enable the broad-based fundamental activity that has been demonstrated historically to lead to the kind of technological breakthroughs that become the dominant technologies in the world’.”
Contratação
Rosakis is much more blunt: “I cannot make mistakes when I hire. I really cannot. We have 16 faculty members in Information Science and Technology – Carnegie Mellon [University in Pittsburgh, a highly ranked research institution] has 200. If I make one hire or two hires that are wrong, I have a huge setback.
(...)
What this means is that decision-makers at Caltech spend “an enormous amount of time making sure that we identify the best available and have the resources to attract them”, Rosakis continues.
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
Verde, o novo tom laranja
Jorge Moreira da Silva fundou, em 2011, a Plataforma para o Crescimento Sustentável.
De entre o conjunto de relatores e colaboradores nas várias áreas de trabalho desta plataforma é possível identificar, pelo menos, 1 outro ministro do atual governo, nada menos do que 6 secretários de estado em funções, 1 ex-secretário de estado e um par de nomeados para cargos de relevo.
Jorge Moreira da Silva, agora Ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, acaba de criar a Coligação para o Crescimento Verde.
Em comum o Crescimento. O sustentável ganhou cor. E a Plataforma passou a Coligação. Ou melhor, a Plataforma é membro desta Coligação.
A apresentação contou com a presença do Primeiro-Ministro, e líder laranja. Desaparecidos do Crescimento Verde estiveram os Ministros Azuis da outra Coligação, a que nos governa, e que tutelam pastas diretamente relacionadas com a economia: o Ministro da Economia e a Ministra da Agricultura e do Mar.
Cromatismos de poder.
De entre o conjunto de relatores e colaboradores nas várias áreas de trabalho desta plataforma é possível identificar, pelo menos, 1 outro ministro do atual governo, nada menos do que 6 secretários de estado em funções, 1 ex-secretário de estado e um par de nomeados para cargos de relevo.
Jorge Moreira da Silva, agora Ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, acaba de criar a Coligação para o Crescimento Verde.
Em comum o Crescimento. O sustentável ganhou cor. E a Plataforma passou a Coligação. Ou melhor, a Plataforma é membro desta Coligação.
A apresentação contou com a presença do Primeiro-Ministro, e líder laranja. Desaparecidos do Crescimento Verde estiveram os Ministros Azuis da outra Coligação, a que nos governa, e que tutelam pastas diretamente relacionadas com a economia: o Ministro da Economia e a Ministra da Agricultura e do Mar.
Cromatismos de poder.
sábado, 1 de fevereiro de 2014
Sombras
Luz.
Nuvem. Sombra.
Sombras. Nuvens.
Ramos. Troncos. Musgo. Pedra.
Penumbra.
Degraus. Rocha. Túnel.
Escuridão.
Gruta. Casulo. Concha.
Concha fechada.
Silêncio. Imóvel. No tempo.
Apenas.
Apenas tempo.
Tempo sem tempo.
Fresta.
Sopro.
Murmúrio.
Sair.
Rastejar. Deslizar. Subir.
Flutuar.
Rocha. Gotas. Arestas. Aragem.
Terra. Raízes. Folhas. Erva.
Ar. Orvalho. Noite.
Deitado.
Olhando.
Céu.
Pó de estrelas.
Nuvem.
Sombra.
Sombras.
Nuvem. Sombra.
Sombras. Nuvens.
Ramos. Troncos. Musgo. Pedra.
Penumbra.
Degraus. Rocha. Túnel.
Escuridão.
Gruta. Casulo. Concha.
Concha fechada.
Silêncio. Imóvel. No tempo.
Apenas.
Apenas tempo.
Tempo sem tempo.
Fresta.
Sopro.
Murmúrio.
Sair.
Rastejar. Deslizar. Subir.
Flutuar.
Rocha. Gotas. Arestas. Aragem.
Terra. Raízes. Folhas. Erva.
Ar. Orvalho. Noite.
Deitado.
Olhando.
Céu.
Pó de estrelas.
Nuvem.
Sombra.
Sombras.
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
O indicador composto
O indicador, dedo, serve para apontar. O indicador composto, de seu nome completo, indicador composto de excelência em ciência e tecnologia serve para atirar. Para atirar à oposição, para atirar aos bolseiros e investigadores, para atirar aos jornalistas, para atirar a alguns deputados que o promovem, suponho, sem saberem muito bem do que estão a falar. Parece ser uma descoberta recente do governo e da comissão europeia.
Dizem-nos, Ministro, Secretária de Estado da Ciência, bancadas da maioria, que a posição que Portugal ocupa, 18 no seio da União Europeia, prova que chegou a altura de investir na excelência, reduzindo na quantidade.
É um uso seletivo da informação, à medida para justificar opções políticas já tomadas.
O referido indicador consta de uma publicação, de 2013, da União Europeia: Research and Innovation Performance in EU Member States and Associated Countries - Innovation Union progress at country level; e baseia-se num trabalho, do ano anterior, elaborado pelo Joint Research Centre: Composit Indicators of Research Excellence. Assenta em quatro parâmetros: i) fracção das publicações mais citadas (top 10%); ii) número de instituições presentes no top 250 das universidades mundiais e top 50 de organismos de investigação (rankings Leiden e Scimago), por milhão de habitantes; iii) patentes submetidas por milhão de habitantes; iv) valor de bolsas do European Research Council em relação à despesa de I&D no estado e ensino superior.
Não sou perito na área, mas gosto de ver, por mim próprio, a informação de que se fala. E analisá-la criticamente.
Misturar número de doutorados, programas de bolsas e este indicador é mistificação. E não nos disseram muitas coisas, algumas que sabem, outras que talvez não saibam. Para começar brandiram o indicador, como arauto da verdade incontestável, sem referir o que ele mede, os pressupostos e as limitações. Dá trabalho, custa tempo, mas assim devia ser a política, ainda para mais sobre ciência. Não nos disseram que os dados usados referem-se a 2010, ou anos anteriores quando são usadas médias de vários anos. Não disseram que o efeito de citações, em muitas áreas científicas, é diferido no tempo: cita-se hoje, por vezes, o que foi feito há anos, o que resultou de investimentos passados. Não disseram que as patentes não têm que resultar do investimento público em ciência. Não questionaram o valor de usar como critério as bolsas atribuídas pelo ERC. Não disseram que a situação até já pode ser pior, porque desde 2009 que Portugal gasta menos em ciência.
Não disseram que o referido relatório contém outros indicadores. Que ocupamos a posição 17 em intensidade do conhecimento na economia, assumido como indicador de transformação estrutural da economia. E que neste âmbito ocupamos a posição 23, sim, 23, no que se refere à taxa de emprego em atividades económicas de conhecimento intensivo face ao grupo empregado entre os 15 e os 64 anos. E que decorre do baixo investimento em investigação nas empresas, em queda acentuada nos últimos anos. E que talvez decorra da dimensão de algumas e dos setores de atividade com maior implantação.
Medidas do Governo, a este propósito: benefícios fiscais para as empresas. E noutro setor do Governo, ali no ministério da Economia, diriam ainda mais, o que é preciso é transferir financiamento das universidades para as empresas.
O dilema não é esse, e é bem maior, até porque o tempo não joga favoravelmente a nosso favor, enquanto vamos divergindo: é possível ter uma dinâmica forte de investimento em investigação nas empresas ou, em muitos domínios, o setor público vai ter de fazer as "despesas"?
Há leituras a que vale a pena voltar, periodicamente, como esta, sobre o papel do conhecimento em tomadas de decisão (no caso em matéria ambiental, ams extrapolável), Willingly and knowingly – The roles of knowledge about nature and the environment in policy processes, RMNO, Lemma Publishers, 2000, e que referi numa entrada de blog a.c.2008 (antes da crise da 2008). Eis um pequeno extrato:
Observation 6: knowledge is often not used for the formulation of policy.
Large quantities of knowledge produced for the benefit of policy are never used in that policy-making. This selective (under)use of knowledge can be attributed to different factors. Some are person-bound (for instance: the paradigm of a policy-maker, interests of policy-makers and users, knowledge monopolies), other relate to the way in which knowledge is presented (too much, too little structure, too little interaction, bad timing).
Dizem-nos, Ministro, Secretária de Estado da Ciência, bancadas da maioria, que a posição que Portugal ocupa, 18 no seio da União Europeia, prova que chegou a altura de investir na excelência, reduzindo na quantidade.
É um uso seletivo da informação, à medida para justificar opções políticas já tomadas.
O referido indicador consta de uma publicação, de 2013, da União Europeia: Research and Innovation Performance in EU Member States and Associated Countries - Innovation Union progress at country level; e baseia-se num trabalho, do ano anterior, elaborado pelo Joint Research Centre: Composit Indicators of Research Excellence. Assenta em quatro parâmetros: i) fracção das publicações mais citadas (top 10%); ii) número de instituições presentes no top 250 das universidades mundiais e top 50 de organismos de investigação (rankings Leiden e Scimago), por milhão de habitantes; iii) patentes submetidas por milhão de habitantes; iv) valor de bolsas do European Research Council em relação à despesa de I&D no estado e ensino superior.
Não sou perito na área, mas gosto de ver, por mim próprio, a informação de que se fala. E analisá-la criticamente.
Misturar número de doutorados, programas de bolsas e este indicador é mistificação. E não nos disseram muitas coisas, algumas que sabem, outras que talvez não saibam. Para começar brandiram o indicador, como arauto da verdade incontestável, sem referir o que ele mede, os pressupostos e as limitações. Dá trabalho, custa tempo, mas assim devia ser a política, ainda para mais sobre ciência. Não nos disseram que os dados usados referem-se a 2010, ou anos anteriores quando são usadas médias de vários anos. Não disseram que o efeito de citações, em muitas áreas científicas, é diferido no tempo: cita-se hoje, por vezes, o que foi feito há anos, o que resultou de investimentos passados. Não disseram que as patentes não têm que resultar do investimento público em ciência. Não questionaram o valor de usar como critério as bolsas atribuídas pelo ERC. Não disseram que a situação até já pode ser pior, porque desde 2009 que Portugal gasta menos em ciência.
Não disseram que o referido relatório contém outros indicadores. Que ocupamos a posição 17 em intensidade do conhecimento na economia, assumido como indicador de transformação estrutural da economia. E que neste âmbito ocupamos a posição 23, sim, 23, no que se refere à taxa de emprego em atividades económicas de conhecimento intensivo face ao grupo empregado entre os 15 e os 64 anos. E que decorre do baixo investimento em investigação nas empresas, em queda acentuada nos últimos anos. E que talvez decorra da dimensão de algumas e dos setores de atividade com maior implantação.
Medidas do Governo, a este propósito: benefícios fiscais para as empresas. E noutro setor do Governo, ali no ministério da Economia, diriam ainda mais, o que é preciso é transferir financiamento das universidades para as empresas.
O dilema não é esse, e é bem maior, até porque o tempo não joga favoravelmente a nosso favor, enquanto vamos divergindo: é possível ter uma dinâmica forte de investimento em investigação nas empresas ou, em muitos domínios, o setor público vai ter de fazer as "despesas"?
Há leituras a que vale a pena voltar, periodicamente, como esta, sobre o papel do conhecimento em tomadas de decisão (no caso em matéria ambiental, ams extrapolável), Willingly and knowingly – The roles of knowledge about nature and the environment in policy processes, RMNO, Lemma Publishers, 2000, e que referi numa entrada de blog a.c.2008 (antes da crise da 2008). Eis um pequeno extrato:
Observation 6: knowledge is often not used for the formulation of policy.
Large quantities of knowledge produced for the benefit of policy are never used in that policy-making. This selective (under)use of knowledge can be attributed to different factors. Some are person-bound (for instance: the paradigm of a policy-maker, interests of policy-makers and users, knowledge monopolies), other relate to the way in which knowledge is presented (too much, too little structure, too little interaction, bad timing).
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
Despesa em I&D - T1. Ep.2
O primeiro episódio desenrolou-se na arena internacional, com escala em várias capitais europeias (http://notasdasuperficie.blogspot.pt/2014/01/despesa-em-i.html).
A cena decorre agora em terras lusas, num dia em que os governantes e administradores da ciência - Ministro da Educação e Ciência, Secretária de Estado da Ciência e Presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, passaram pela Assembleia da República.
Deixemos agora a percentagem do PIB (grandeza que encolheu em anos recentes). Até porque o que permite fazer ciência, como de resto todas as outras atividades, não são percentagens, mas pessoas e dinheiro. Deixemos pois as comparações da estrutura da despesa e mesmo do volume da despesa, que ignora os preços reais em cada país, que ignora portanto que nem todos os euros são iguais. Esqueçamos ainda as guerras parlamentares sobre as virtualidades da comparação entre despesa pública e dotação orçamental; ou sobre 2008, ou 2010, ou 2013, fazendo por esquecer o efeito cumulativo do investimento ou o efeito cumulativamente subtrativo do desinvestimento.
Olhemos apenas para os euros, realmente gastos, em Portugal, nas empresas, no estado, nas universidades.
Facto: 2009 foi o ano que registou a maior despesa em I&D: 2764 M€.
Facto: de 2009 a 2012 gastou-se sempre menos, de acordo com dados provisórios de 31 de dezembro último.
Facto: o decréscimo foi de 295 M€ em três anos, ou seja, quase 11%.
Conclusão: Portugal está a investir menos em investigação.
Facto: um pouco mais de metade da quebra, 150 M€, refere-se a despesa executada nas empresas, que passou de 1311 M€ para 1161 M€; a restante refere-se a despesa executada no estado, no ensino superior e em instituições privadas sem fins lucrativos.
Facto: a despesa executada pelo Estado caiu 42 M€, ou seja, quase 21%.
Facto: a despesa executada no Ensino Superior caiu cerca de 52 M€, ou seja cerca de 5%.
Alerta interpretativo: há despesa executada nas empresas que corresponde a financiamento público e despesa executada em entidades públicas que corresponde a financiamento privado.
Conclusão: o Estado investe menos em investigação; as empresas investem menos investigação; as universidades investem menos em investigação.
Conclusão: o investimento privado não será a solução de curto prazo.
Alerta interpretativo: nem todos os efeitos desta "poupança" são imediatamente visíveis nos resultados da investigação. As publicações de hoje correspondem a trabalhos do passado. As citações a trabalhos do antes passado. A falta de equipamentos de ponta, a deterioração, a quebra de acesso a bases de dados terão efeitos no amanhã e no depois de amanhã.
Facto: as dotações orçamentais (a preços correntes) de 2013, estão ao nível das de 2008.
Conclusão: o Estado assumiu o retrocesso do esforço público de investigação que veementemente nega.
Os factos são da responsabilidade exclusiva do Ministério da Educação e Ciência, e constam de relatórios da Direção Geral das Estatísticas da Educação e Ciência, disponíveis na internet: Dotações orçamentais para C&T e I&D, de maio de 2013, e Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico - IPCTN12 - Resultados provisórios, de dezembro de 2013.
As conclusões são da minha responsabilidade.
A cena decorre agora em terras lusas, num dia em que os governantes e administradores da ciência - Ministro da Educação e Ciência, Secretária de Estado da Ciência e Presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, passaram pela Assembleia da República.
Deixemos agora a percentagem do PIB (grandeza que encolheu em anos recentes). Até porque o que permite fazer ciência, como de resto todas as outras atividades, não são percentagens, mas pessoas e dinheiro. Deixemos pois as comparações da estrutura da despesa e mesmo do volume da despesa, que ignora os preços reais em cada país, que ignora portanto que nem todos os euros são iguais. Esqueçamos ainda as guerras parlamentares sobre as virtualidades da comparação entre despesa pública e dotação orçamental; ou sobre 2008, ou 2010, ou 2013, fazendo por esquecer o efeito cumulativo do investimento ou o efeito cumulativamente subtrativo do desinvestimento.
Olhemos apenas para os euros, realmente gastos, em Portugal, nas empresas, no estado, nas universidades.
Facto: 2009 foi o ano que registou a maior despesa em I&D: 2764 M€.
Facto: de 2009 a 2012 gastou-se sempre menos, de acordo com dados provisórios de 31 de dezembro último.
Facto: o decréscimo foi de 295 M€ em três anos, ou seja, quase 11%.
Conclusão: Portugal está a investir menos em investigação.
Facto: um pouco mais de metade da quebra, 150 M€, refere-se a despesa executada nas empresas, que passou de 1311 M€ para 1161 M€; a restante refere-se a despesa executada no estado, no ensino superior e em instituições privadas sem fins lucrativos.
Facto: a despesa executada pelo Estado caiu 42 M€, ou seja, quase 21%.
Facto: a despesa executada no Ensino Superior caiu cerca de 52 M€, ou seja cerca de 5%.
Alerta interpretativo: há despesa executada nas empresas que corresponde a financiamento público e despesa executada em entidades públicas que corresponde a financiamento privado.
Conclusão: o Estado investe menos em investigação; as empresas investem menos investigação; as universidades investem menos em investigação.
Conclusão: o investimento privado não será a solução de curto prazo.
Alerta interpretativo: nem todos os efeitos desta "poupança" são imediatamente visíveis nos resultados da investigação. As publicações de hoje correspondem a trabalhos do passado. As citações a trabalhos do antes passado. A falta de equipamentos de ponta, a deterioração, a quebra de acesso a bases de dados terão efeitos no amanhã e no depois de amanhã.
Facto: as dotações orçamentais (a preços correntes) de 2013, estão ao nível das de 2008.
Conclusão: o Estado assumiu o retrocesso do esforço público de investigação que veementemente nega.
Os factos são da responsabilidade exclusiva do Ministério da Educação e Ciência, e constam de relatórios da Direção Geral das Estatísticas da Educação e Ciência, disponíveis na internet: Dotações orçamentais para C&T e I&D, de maio de 2013, e Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico - IPCTN12 - Resultados provisórios, de dezembro de 2013.
As conclusões são da minha responsabilidade.
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
Despesa em I&D
Despesa em atividades de investigação e desenvolvimento por setor de execução, em 2012, expressas em percentagem do produto interno bruto (dados retirados da Pordata, baseados no Eurostat, OCDE, INE).
Despesa total
Portugal, com 1,50%, encontra-se ainda longe da média da União Europeia a 27 (2,07%) e muito longe dos países que proporcionalmente mais investem: Finlândia (3,55%), Suécia (3,41%), Dinamarca (2,98%), Alemanha (2,92%), Áustria (2,84%). Eslovénia (2,80%).
Despesa executada no Ensino Superior
Portugal (0,58%) executa mais despesa em I&D neste setor do que a média da UE-27 (0,49%), e mesmo do que a Alemanha (0,53%), embora francamente menos do que países do Norte da Europa como a Dinamarca (0,95%), a Suécia (0,92%) ou a Finlândia (0,77%).
Despesa executada no setor Estado
Sim. O setor Estado realiza investigação. Em Portugal apenas corresponde a 0,10% do PIB. Na UE-27 0,26%. Na Alemanha 0,43%, face a 0,53% no Ensino Superior.
Despesa executada em empresas
Aplicada e não só, porque empresas de ponta fazem investigação fundamental.
Finlândia (2,44%), Suécia (2,31%), Eslovénia (2,16%), Dinamarca (1,96%), ..., UE-27 (1,31%).
Portugal (0,70%) surge apenas na 16ª posição.
Estes números não dizem tudo. Estes números não dizem muito. Estes números não mostram o modelo de cada País. Mas dizem alguma coisa. Dizem que a diferença não se esbate transferindo verbas de investigação das universidades para as empresas. Dizem que a diferença não se esbate reduzindo as verbas executadas no ensino superior. Dizem que é preciso que haja mais despesa em investigação, nova despesa em investigação, nova despesa em investigação realizada nas empresas. Não sei se o caminho que alguns querem seguir é apenas o do mercado, do expoente da competição, mas a ser, em coerência, tal implicaria que as empresas paguessem mais investigação, esta diferença que temos em relação à maioria dos países.
Se compararmos 2012 com 1995 os números dizem algo mais. Dizem que triplicamos a despesa em I&D. Ora se partimos de uma situação de décadas de pouco investimento, a convergência de resultados não se alcança apenas com a, já de si difícil, convergência do nível de investimento; é preciso um esforço maior. Dizem ainda que se desinvestiu na investigação executada no setor Estado, que diminuiu de 0,14% para 0,10%. É uma situação que, neste domínio, nos coloca quase na ponta da cauda, apenas à frente de Chipre e Malta (se excluirmos a Dinamarca e a Irlanda, que em termos do setor empresarial estão noutro campeonato). Talvez tenha a ver com a situação dos Laboratórios de Estado. Seria preciso analisar outros dados.
À atenção de quem gosta de ver, e de mostrar, apenas uns números, mas não outros. E de teorizar sobre investigação útil e aplicada, universidades e empresas. Há muita informação à nossa volta, à espera de ser usada. Não de ser manipulada numa tentativa de fazer encaixar a realidade na teoria ou na ideologia.
Despesa total
Portugal, com 1,50%, encontra-se ainda longe da média da União Europeia a 27 (2,07%) e muito longe dos países que proporcionalmente mais investem: Finlândia (3,55%), Suécia (3,41%), Dinamarca (2,98%), Alemanha (2,92%), Áustria (2,84%). Eslovénia (2,80%).
Despesa executada no Ensino Superior
Portugal (0,58%) executa mais despesa em I&D neste setor do que a média da UE-27 (0,49%), e mesmo do que a Alemanha (0,53%), embora francamente menos do que países do Norte da Europa como a Dinamarca (0,95%), a Suécia (0,92%) ou a Finlândia (0,77%).
Despesa executada no setor Estado
Sim. O setor Estado realiza investigação. Em Portugal apenas corresponde a 0,10% do PIB. Na UE-27 0,26%. Na Alemanha 0,43%, face a 0,53% no Ensino Superior.
Despesa executada em empresas
Aplicada e não só, porque empresas de ponta fazem investigação fundamental.
Finlândia (2,44%), Suécia (2,31%), Eslovénia (2,16%), Dinamarca (1,96%), ..., UE-27 (1,31%).
Portugal (0,70%) surge apenas na 16ª posição.
Estes números não dizem tudo. Estes números não dizem muito. Estes números não mostram o modelo de cada País. Mas dizem alguma coisa. Dizem que a diferença não se esbate transferindo verbas de investigação das universidades para as empresas. Dizem que a diferença não se esbate reduzindo as verbas executadas no ensino superior. Dizem que é preciso que haja mais despesa em investigação, nova despesa em investigação, nova despesa em investigação realizada nas empresas. Não sei se o caminho que alguns querem seguir é apenas o do mercado, do expoente da competição, mas a ser, em coerência, tal implicaria que as empresas paguessem mais investigação, esta diferença que temos em relação à maioria dos países.
Se compararmos 2012 com 1995 os números dizem algo mais. Dizem que triplicamos a despesa em I&D. Ora se partimos de uma situação de décadas de pouco investimento, a convergência de resultados não se alcança apenas com a, já de si difícil, convergência do nível de investimento; é preciso um esforço maior. Dizem ainda que se desinvestiu na investigação executada no setor Estado, que diminuiu de 0,14% para 0,10%. É uma situação que, neste domínio, nos coloca quase na ponta da cauda, apenas à frente de Chipre e Malta (se excluirmos a Dinamarca e a Irlanda, que em termos do setor empresarial estão noutro campeonato). Talvez tenha a ver com a situação dos Laboratórios de Estado. Seria preciso analisar outros dados.
À atenção de quem gosta de ver, e de mostrar, apenas uns números, mas não outros. E de teorizar sobre investigação útil e aplicada, universidades e empresas. Há muita informação à nossa volta, à espera de ser usada. Não de ser manipulada numa tentativa de fazer encaixar a realidade na teoria ou na ideologia.
sábado, 18 de janeiro de 2014
Ritual de submissão
Sou contra a disciplina de voto. Empobrece a democracia. Empobrece a participação individual. Desresponsabiliza. Transforma pessoas em meros números. Insulta os eleitores. Contraria tudo que se apregoa sobe a importância de consensos, discussão, transparência. É um ritual de submissão. Falta um mecanismo pelo qual os eleitores possam retirar a confiança aos eleitos.
Podia continuar a adjetivar a coisa. Prefiro citar a a eloquente crónica de hoje de Pedro Santos Guerreiro, no Expresso: "Que dizer dos deputados que votaram contra a sua consciência? Que não a têm? Que dela abdicaram? Declarações de voto não valem um voto. A objeção ou é um exercício ou não é objeção, é plasticina. A disciplina de voto pode fazer sentido, mas não neste caso. Mas serve de capote para acomodar a cobardia sentada no Parlamento. A disciplina de voto tornou-se a disciplina de veto. Veto à própria Assembleia, que aprovara o processo legislativo, precisamente porque então houvera liberdade de voto. Ontem não houve liberdade. Escreveu-se torto por linhas tortas. Foi tudo triste. Tudo triste."
Podia continuar a adjetivar a coisa. Prefiro citar a a eloquente crónica de hoje de Pedro Santos Guerreiro, no Expresso: "Que dizer dos deputados que votaram contra a sua consciência? Que não a têm? Que dela abdicaram? Declarações de voto não valem um voto. A objeção ou é um exercício ou não é objeção, é plasticina. A disciplina de voto pode fazer sentido, mas não neste caso. Mas serve de capote para acomodar a cobardia sentada no Parlamento. A disciplina de voto tornou-se a disciplina de veto. Veto à própria Assembleia, que aprovara o processo legislativo, precisamente porque então houvera liberdade de voto. Ontem não houve liberdade. Escreveu-se torto por linhas tortas. Foi tudo triste. Tudo triste."
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
Eles não sabem !?
É sempre arriscado comentar excertos do que alguém diz. Por isso procuro evitá-lo de modo a que as "Notas" possam ser de mais além, e não apenas da superfície. Mas nem sempre é possível ter acesso integral às mensagens, sem montagens, sem intermediação. Esta é uma dessas situações. Correrei o risco de uma interpertação incompleta, mesmo incorreta.
Desta vez foi Pires de Lima, sobre a investigação que se faz, tema muito em foco (citado no Expresso de hoje):
"Uma boa parte da investigação é financiada por dinheiros públicos e não chega à economia real. Não chega a transformar o conhecimento em resultados concretos que depois beneficiem a sociedade como um todo."
Terá ainda dito não ser possível "alimentar um modelo que permita à investigação e à ciência viverem no conforto de estar longe das empresas e da vida real". Terá ainda referido o elevado número de doutorados em Portugal e o contraste com o baixo número de doutorados nas empresas.
Terá preconizado a necessidade de "(...) criar um modelo de estímulos e de sinais que ligue a investigação, a ciência, a educação, à vida concreta e real das empresas e que se traduza em produtos, marcas e serviços que possam fazer a diferença no mercado e devolver à sociedade o investimento que fizemos", bem como a incorporação de uma educação para o empreendedorismo nas escolas.
Vamos por partes, porque com os mesmos factos eu chego a conclusões muito diferentes. O primeiro problema, e de monta, não é, pelo menos em grande parte, a investigação financiada por dinheiros públicos não chegar às empresas. O problema é que as empresas, desde logo, não financiam uma "boa parte da investigação". O mesmo se pode referir em relação ao baixo número de doutorados nas empresas. Ora o "homem" da economia, das empresas, do mercado, é lesto a colocar o problema apenas de um lado: as universidades não investigam o que é preciso; os doutorados não têm as características que as empresas querem. Eu diria que as empresas, muitas empresas não podem, não querem ou não precisam (razões distintas para setores e empresas distintas) de investir em investigação e em investigadores.
Outra questão, também fundamental: o papel da investigação publicamente financiada. Nesta visão, como em muitas outras, a investigação deve ter utilidade a curto prazo, deve ser o mais aplicada possível. Nestes tempos medidos em microsegundos, preenchidos por hipersolicitações e habitados por todos nós, seres com pouco tempo para pensar, o Sr. Ministro deve ter-se esquecido que para a navegação orientada através das estrelas foi preciso muita investigação "inútil", que permitiu compreender a posição e movimento dos astros, a sua relação com o nosso planeta, o modo de interligar pontos à superfície. Ou que para produzir telemóveis e computadores alguém, muitos, muito antes, estudaram minerais, estudaram compostos, estudaram a radiação, para compreender. As utilizações vieram noutras épocas, por outras gentes. O telemóvel é um bom exemplo da quantidade e qualidade de conhecimento inicialmente não aplicado (http://notasdasuperficie.blogspot.pt/2012/06/o-que-vemos-ao-olhar-para-um-telemovel.html). Este é um papel singular das universidades. Do interesse público.
Terceiro ponto: a formação de doutorados e o emprego. O percurso de doutoramento é um percurso de desenvolvimento de capacidades de investigação de forma autónoma, alargando o conhecimento disponível. Como tal, segue um processo próprio e tem um tempo próprio. Naturalmente que pode incidir sobre partes de problemas reais, das empresas, do meio natural, da sociedade. Mas não unicamente e não dando acesso, necessariamente, a determinado tipo de emprego.
Mais haveria para dizer sobre a vida "real" das empresas ou sobre a vida "real" da investigação "confortável". Ou sobre o fabrico do "homo imprenditoris", desde o berço até à criação de sucesso, contraditoriamente, talvez, sempre apoiado de fundo em fundo, de estímulo em estímulo, de curso em curso. Mas fiquemos por aqui.
Não sei se "eles" sabem. Sei que o mundo deles não é o meu. E espero que não seja o de muitos mais.
Desta vez foi Pires de Lima, sobre a investigação que se faz, tema muito em foco (citado no Expresso de hoje):
"Uma boa parte da investigação é financiada por dinheiros públicos e não chega à economia real. Não chega a transformar o conhecimento em resultados concretos que depois beneficiem a sociedade como um todo."
Terá ainda dito não ser possível "alimentar um modelo que permita à investigação e à ciência viverem no conforto de estar longe das empresas e da vida real". Terá ainda referido o elevado número de doutorados em Portugal e o contraste com o baixo número de doutorados nas empresas.
Terá preconizado a necessidade de "(...) criar um modelo de estímulos e de sinais que ligue a investigação, a ciência, a educação, à vida concreta e real das empresas e que se traduza em produtos, marcas e serviços que possam fazer a diferença no mercado e devolver à sociedade o investimento que fizemos", bem como a incorporação de uma educação para o empreendedorismo nas escolas.
Vamos por partes, porque com os mesmos factos eu chego a conclusões muito diferentes. O primeiro problema, e de monta, não é, pelo menos em grande parte, a investigação financiada por dinheiros públicos não chegar às empresas. O problema é que as empresas, desde logo, não financiam uma "boa parte da investigação". O mesmo se pode referir em relação ao baixo número de doutorados nas empresas. Ora o "homem" da economia, das empresas, do mercado, é lesto a colocar o problema apenas de um lado: as universidades não investigam o que é preciso; os doutorados não têm as características que as empresas querem. Eu diria que as empresas, muitas empresas não podem, não querem ou não precisam (razões distintas para setores e empresas distintas) de investir em investigação e em investigadores.
Outra questão, também fundamental: o papel da investigação publicamente financiada. Nesta visão, como em muitas outras, a investigação deve ter utilidade a curto prazo, deve ser o mais aplicada possível. Nestes tempos medidos em microsegundos, preenchidos por hipersolicitações e habitados por todos nós, seres com pouco tempo para pensar, o Sr. Ministro deve ter-se esquecido que para a navegação orientada através das estrelas foi preciso muita investigação "inútil", que permitiu compreender a posição e movimento dos astros, a sua relação com o nosso planeta, o modo de interligar pontos à superfície. Ou que para produzir telemóveis e computadores alguém, muitos, muito antes, estudaram minerais, estudaram compostos, estudaram a radiação, para compreender. As utilizações vieram noutras épocas, por outras gentes. O telemóvel é um bom exemplo da quantidade e qualidade de conhecimento inicialmente não aplicado (http://notasdasuperficie.blogspot.pt/2012/06/o-que-vemos-ao-olhar-para-um-telemovel.html). Este é um papel singular das universidades. Do interesse público.
Terceiro ponto: a formação de doutorados e o emprego. O percurso de doutoramento é um percurso de desenvolvimento de capacidades de investigação de forma autónoma, alargando o conhecimento disponível. Como tal, segue um processo próprio e tem um tempo próprio. Naturalmente que pode incidir sobre partes de problemas reais, das empresas, do meio natural, da sociedade. Mas não unicamente e não dando acesso, necessariamente, a determinado tipo de emprego.
Mais haveria para dizer sobre a vida "real" das empresas ou sobre a vida "real" da investigação "confortável". Ou sobre o fabrico do "homo imprenditoris", desde o berço até à criação de sucesso, contraditoriamente, talvez, sempre apoiado de fundo em fundo, de estímulo em estímulo, de curso em curso. Mas fiquemos por aqui.
Não sei se "eles" sabem. Sei que o mundo deles não é o meu. E espero que não seja o de muitos mais.
Subscrever:
Mensagens (Atom)